Uma Nação Bankless 🏴 (parte II)
Prezada nação Bankless,
Na primeira parte dessa série, postada semana passada, destrinchamos o conceito de “Nação” em seus componentes fundamentais, com o objetivo de entender o que é uma “Nação” com outros olhos. Comparamos o funcionamento de estados-nação com o corpo humano, e tocamos nos conceitos de economia e confiança, que são essenciais para o funcionamento de uma nação.
Nessa parte II, vamos analisar alguns protocolos ao longo do tempo, e explorar Nações Digitais, observando como elas se relacionam com o indivíduo e como podem impactar significativamente a vida de alguém.
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Uma Nação Bankless 🏴 (parte 2)
Texto escrito originalmente por David Hoffman, co-fundador do Bankless.
Protocolos ao longo do tempo
Protocolos nasceram e morreram ao longo da humanidade. Cada novo protocolo tende a se aperfeiçoar sobre seu antecessor. Ao longo do tempo, os protocolos carregados de subjetividade, fricções sistêmicas e limites sobre liberdades são substituídos por novos protocolos com menos dessas coisas. Vamos focar aqui nos três principais paradigmas dos esquemas organizacionais (protocolos) humanos ao longo da história. Vale ressaltar que existem vários pontos intermediários na história que não serão discutidos aqui (Animismo, monarquia, etc).
Religião
Definido pelo Wikipédia: Religião (do latim religio, -onis) é um conjunto de sistemas culturais e de crenças, além de visões de mundo, que estabelecem os símbolos que relacionam a humanidade com a espiritualidade e os seus próprios valores morais.
Um sistema sócio-cultural de práticas e comportamentos designados.
Em outras palavras, religião é um protocolo de como atuar com a intenção de estar em acordo com os demais. O objetivo da religião é criar unidade social e coesão em larga escala. “Integridade” é a qualidade ou estado de se estar moralmente correto é justificável; um meio de se medir a confiança que alguém pode seguramente depositar em um indivíduo. Se alguém é integro, esse pode ser confiável (um meio medieval de avaliar alguém).
Religião escalou confiança entre indivíduos, mesmo quando os indivíduos se situavam muito longe uns dos outros e não se conheciam em um nível interpessoal. Ao vestir publicamente a mesma ‘bandeira’ religiosa, dois indivíduos eram capazes de ter algumas garantias sobre como o outro poderia agir antes mesmo de passar algum tempo se conhecendo.
O protocolo de uma religião é tipicamente escrito e formalizado em um texto sagrado. A Bíblia, Torá, ou Alcorão são as instâncias do protocolo em forma física. Estes textos são as documentações do protocolo, os quais ditam como o protocolo, e as pessoas que o seguem, devem operar e se comportar em concordância entre si. Disputas e desentendimentos eram resolvidos ao referenciar as passagens na documentação que ilustravam o que Deus destinava a certos comportamentos e a sua palavra final.
Custos e Desvantagens
Subjetividade
Nenhum esquema organizacional é perfeito, e como um esquema organizacional, a Religião tinha várias falhas. Talvez a mais crítica seja a subjetividade de interpretação dos documentos do protocolo. Duas pessoas podiam fazer interpretações mais leves ou ríspidas do protocolo, o que resultava em diferentes prescrições de como agir. Estas duas visões diferentes da realidade eram a principal fonte de alterações de protocolo, e criavam a fragmentação de consenso de um sistema central de crenças, para diferentes facções.
Compromissos com um ‘Grupo-Externo’
Na maturidade, religiões organizadas tendem a se desmoronar. Cada religião possui uma ‘condição de vitória' ou ‘fim de jogo’ que intrinsecamente a coloca à sorte de outras religiões concorrentes. Guerras foram travadas sobre isto, e conflitos permanecem até os dias atuais. O principal meio que uma religião escala confiança é por criar coesão com um ‘grupo-interno’, o que simultaneamente acarreta à existência de um ‘grupo-externo’. No intuito de estabelecer coesão interna, as religiões se comprometem aos limites de seu desenvolvimento máximo.
Custos Internos
As doutrinas prescritas pelas religiões incluem algumas regras sem sentido. A adoção de regras que não refletem o bem do grupo como um todo é um fator limitante no escalonamento de confiança, e adiciona fricção ao sistema. Quaisquer esforços que as religiões colocam em cerimônias de mutilação genital, restrição de certos comportamentos como drogas, homossexualidade, canhotos, é um esforço desperdiçado que ja fora melhor alocado em outro lugar.
Religiões tendem a oprimir e perseguir certos grupos de pessoas, sem quaisquer ganhos reais para o sistema como um todo. Prescrições que oprimem membros do ‘grupo-interno’ não é ideal para a estabilidade do sistema como um todo: isso mata o incentivo para membros do grupo-interno a ajudarem a manter o sistema. Por que eles se alinhariam a um sistema que oprime suas liberdades? Quando uma nova nação emerge, eles têm o incentivo para desertar.
Não-resistência a captura
Conforme o protocolo de religiões organizada se expandiu, esse virou um alvo para coerção e captura por grupos interessados. Quando um protocolo cresce em poder e influência, o incentivo para capturar controle sobre ele aumenta imensamente. Enquanto o protocolo de seguir uma religião foi útil para unir pessoas, sua habilidade de controlar pessoas e exercer influência tornou-se muito atraente. Ultimamente, esses sistemas vinham a ser regidos por aqueles que não estavam com o protocolo em si mas estavam de fato interessados no poder e influência que alguém poderia ter no comando do navio. Liderança sobre protocolos religiosos por fim levou à corrupção e destruição.
Por fim, a não-neutralidade de protocolos religiosos limita seu escopo. O comprometimento a um grupo-externo, as fricções no desenvolvimento do protocolo, e sua incapacidade de se manter resistente à captura ultimamente deixaram um vácuo suficientemente grande para o estabelecimento de esquemas alternativos de nações.
Estados-Nação
Estados-nação oferecem um caminho mais sólido para escalar confiança e organização entre pessoas, com menos custos do que religiões organizadas. Os estados-nação trouxeram uma tentativa em 'protocolização' formalizadas e a instanciação de ‘neutralidade-credível’ no sistema subjacente. A ‘Constituição’ de uma Nação é um conjunto de regras base para como um sistema de estado-nação deveria operar. Mesmo que não remova completamente a subjetividade de suas interpretações, muito progresso significativo foi feito em reduzi-la.
Alguns estados-nação tentaram estabelecer um nível de neutralidade credível no sistema ao separar a religião do estado. O intuito era restringir os valores subjetivos de um grupo a serem exercidos em cima de outros.
A principal inovação de um estado-nação foi a remoção do conjunto permanente, imutável de regras e governantes, ao criar um protocolo para mudar o protocolo. Às vezes, os humanos atrapalham as coisas e nós devemos ser capazes de fazer correções sem ter que conviver com os erros cometidos, simplesmente por que “é assim que funciona”.
Talvez se a religião tivesse aceito as atualizações de protocolo, ela teria percebido que a opressão à homossexualidade ou o apedrejamento de não-virgens não fosse um interesse do grupo como um todo. Entretanto, a palavra de Deus é final, e a única maneira de não praticar essas coisas é modificando o protocolo para algo mais sustentável.
Um ‘protocolo para mudar o protocolo’ é uma característica que permite o escalonamento do estado-nação bem além do que uma religião organizada jamais poderia. Esse atributo é o que permitiu às minorias terem suas vozes ouvidas e dizerem "nós não gostamos disto!”. Isto tem funcionado decentemente bem, pelo menos comparando-se com religião. Ao permitir os problemas serem ouvidos e soluções serem acordadas, o ‘protocolo para mudar o protocolo’ foi capaz de ter 'atualizações de software’ que permitem melhorias em eficiência, e reduziam os custos do sistema. O protocolo de estado-nação poderia ser atualizado para ser mais inclusivo e poderia escalar a um conjunto maior de pessoas.
Nações são sistemas compostos. Uma nação não é um objeto singular, mas de fato uma rede de partes independentes e interconectadas, cada uma com seus comandos e resultados. Este sistema é dividido em duas partes: a nação, e sua economia. O ‘protocolo’ de uma nação são as regras e as leis, codificadas em um documento que todos dentro da nação concordam ser o conjunto de documentos que ditam as regras da terra. A economia é tanto aquilo que nutre o sistema que a governa, como também aquilo que o dá legitimidade e propósito sobre a governança do sistema. Nutrir a economia é o propósito de uma nação.
Escalando o estado-nação
O Brasil, como um modelo exemplar de estado-nação, é um sistema que maximiza confiança, comunicação e comércio por todo seu domínio. O Governo Federal do Brasil é o ‘protocolo dos protocolos’. O Banco Central é o protocolo que todos os 26 estados concordam em seguir. Cada um dos 26 estados é também um ‘sub-protocolo’, o qual é designado para ser melhor ajustado e apropriado para seus constituintes relevantes. Dentro dos estados existem cidades, as quais são sub-protocolos do estado. Três ordens-de-magnitude definem todo o protocolo do Brasil, e possibilitam o escalonamento de confiança e comércio de qualquer parte para qualquer outra parte do Brasil.
Essa estrutura é similar ao conceito de ‘sharding’ (fragmentação), onde cada domínio do protocolo é responsável por administrar sua região específica. O Governo Federal é a Main Chain (rede principal) que permite ao fragmento Amapá se comunicar com o fragmento Rio Grande do Sul, assim como todos os fragmentos Cidade individuais dentro dos fragmentos estado.
Este sistema de protocolo-de-protocolos-de-protocolos é o que permite o livre comércio e fronteiras abertas através de toda a nação brasileira. Protocolos são a criação de padrões. Órgãos federais como a ANVISA permitem o comércio de alimentos e fármacos entre as fronteiras estatais porque todos estão seguindo as mesmas regras. Padrões e protocolização geram eficiência via escalonamento de confiança e isto é o que permite a nação brasileira a escalar confiança e comércio dentre seu domínio.
Estudo de Caso de um Protocolo Superior
A Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética foi uma guerra sobre quem tinha o melhor protocolo. ‘Melhor’ definido como ‘qual protocolo produz uma economia mais forte’ porque quem possui uma economia mais forte consegue gastar mais que o outro. Estas duas nações nunca tiveram nenhuma razão concreta para se combater diretamente. Entretanto, quando dois corpos são colocados em um espaço com recursos limitados, alguém precisa ceder.
Em última análise, a Guerra Fria entre os Estados Unidos e a União Soviética era uma luta ideológica sobre como um estado-nação deveria ser projetado. O resultado dessa luta era determinado pela relação entre cada protocolo e sua respectiva economia. No início da Guerra Fria, o vencedor estava predestinado a ser aquele protocolo que produzisse uma economia mais saudável e robusta.
O sucesso do protocolo norte-americano sobre o regime centralizado da URSS ilustra um ponto importante sobre como as nações deveriam ser construídas. O protocolo norte-americano enfatiza a liberdade pessoal sobre serviços compelidos, o que resultava em uma economia mais robusta e eficiente. Quando deixados por conta própria, humanos descobrem como eles melhor se encaixam no sistema nacional. O planejamento central e coordenação na URSS ignorou amplamente o desejo por autonomia e independência. Ao invés disso, este impõe desejos subjetivos em como a economia da URSS deveria ser, e como/onde os humanos dentro desta deveriam ser/estar.
Os valores que eram instanciados no protocolo dos Estados Unidos eram mais alinhados com como os humanos agem naturalmente. Limitações sobre o que o protocolo tem controle permitem aos constituintes do protocolo dos EUA a acessarem liberdades máximas, e resultou em uma economia que era mais forte e mais robusta do que a que a URSS produziu. A Guerra Fria foi vencida pelos EUA porque sua economia mais robusta os permitiu gastar mais do que a URSS.
A lição aqui é: o povo quando livre e autônomo é capaz de organizar uma economia eficiente e interconectada. O livre mercado guiou a economia Norte Americana à prosperidade e garantiu ao protocolo dos EUA os recursos necessários para superar a URSS.
Ordem espontânea diz respeito ao surgimento espontâneo de ordem no caos aparente; o surgimento de vários tipos de ordem sociais a partir de uma combinação de indivíduos auto-interessados que não estão intencionalmente tentando criar ordem.
Importantemente, isso adiciona outro ponto de análise sobre a trajetória desses sistemas. A estrutura centralizada e dogmática do protocolo soviético assemelhava-se mais aos protocolos altamente restritivos determinados pela Religião. Tanto religião quanto a URSS limitavam as liberdades individuais, e a habilidade desses sistemas de escalar confiança era minimizada. As ineficiências criadas destas restrições nos indivíduos levaram às quedas de ambos os sistemas. Claramente, sistemas que enfatizam as liberdades individuais tendem a prosperar sobre aqueles que não o fazem.
Custos e Desvantagens
Subjetividade
Enquanto soberania individual e liberdade pessoal são valores chave dos Estados-Nação modernos de sucesso, na verdade, estes são somente o lado do “deveria” na diferença entre o que é e o que deveria ser. A Declaração da Independência declara os valores dos EUA; todos os homens são criados iguais, mas não necessariamente impõe isto; é somente uma sugestão.
Custos Internos e Não-resistência à Captura
Em maiores escalas, os incentivos do corpo governante do protocolo do estado-nação e daqueles que vivem sob suas ordens, se desalinham. O corpo governante de uma protocolo possui o incentivo para se manter no poder, e portanto pode direcionar mais recursos e capital para este objetivo do que é desejado pelo povo. Como resultado, aqueles que compõem o corpo governante estão dispostos a tecer acordos com o diabo (o centrão) e vender sua legitimidade como governante do estado para quem pagar mais. Para se reeleger, um representante de estado precisa de fundos, e estes podem ser facilmente adquiridos através de favores para aqueles que detêm capital.
A formalização de governança de um estado-nação é também explicitamente afirmada quando muita energia e esforço devem ser alocados para se manifestar alguma influência sobre o sistema. Como resultado de um conjunto claro e formalizado de regras, um roteiro é criado para os partidos/grupos interessados em influenciar a governança. Certamente, todos estão interessados em influenciar a governança; esse é o propósito da democracia. Entretanto, quando é permitido ao capital expressar influência através de meios mais diretos e efetivos, o protocolo perde sua neutralidade credível, e o povo perde sua habilidade de expressar sua vontade.
Como resultado disto, aqueles com capital se excluem dos altos impostos, e fazem aqueles menos favorecidos carregarem esse fardo. Um criticismo proeminente de ambos os partidos dos EUA é que eles atuam somente sobre as pautas que a elite rica os permite/designa. Qualquer outro partido político ou movimento que sugere que a elite deve pagar sua parcela justa de impostos nunca é eleita ao poder.
Tradução do tweet: Observe como os americanos mais ricos gradualmente aumentaram a cobrança de impostos em cima dos pobres e reduziram a curva até que eles pagassem os menores impostos de todos.
Ao longo do tempo, os constituintes de qualquer estado-nação tendem a se perguntar, “Os custos de se viver dentro do meu estado-nação se equiparam aos benefícios que meu estado-nação me proporciona?". Eu acredito que nós podemos tomar como exemplo o sucesso do movimento populista-direitista por trás de Donald Trump, assim como a energia do movimento populista-esquerdista por trás de Bernie Sanders, de que as pessoas estão começando a pensar que os custos do estado-nação estão muito altos pelos serviços que estes oferecem.
Ódio e raiva são emoções que afloram quando um indivíduo é impedido de progredir em direção a seus objetivos. Se duas pessoas estão diante de um mesmo problema, mas uma possui um caminho livre e a outra uma parede de tijolos, a primeira pode sentir entusiasmo e otimismo enquanto a segunda pode sentir raiva e frustração. Quando os constituintes do Brasil veem aqueles com capital atingindo facilmente seus objetivos, mas seu governador local não atende suas demandas, a raiva toma conta. Como resultado, muitas pessoas adotaram a atitude de “queima tudo nessa p**ra.”
A falta de voz do povo oferece um incentivo para desertar de sua nação atual. Assim como os peregrinos (norte americanos) cruzaram o Atlântico para escapar da tirania do Monarca, hoje as pessoas hoje cruzam o abismo entre a nação física e a Nação Digital. Nações Digitais são um ‘caminho livre à frente’, ao contrário de uma parede de tijolos, e oferecem ao povo a capacidade de ‘se retirar’ de seu sistema físico de estado-nação, pelo menos em um certo grau.
Quanto mais o povo se sente não ouvido, mais frustrado ele se torna e mais incentivos existem para se mover a um próximo paradigma de Nações.
Nações Digitais
Bitcoin e Ethereum são Nações Digitais. Eles são o próximo passo de um sistema de Nação. Mais importante ainda, eles vivem na Internet; os tanques, infantaria, caças, e bombas nucleares que instanciam o poder das nações físicas não possuem impacto no meio de vida destas Nações Digitais. Por habitarem na internet, eles têm a capacidade de alcançar toda a população mundial e não necessitam em nada dos custos de um governo centralizado ou forças armadas para isto. Usando estas Nações Digitais como suporte para comércio e a economia, humanos são capazes de dar um passo importante em sua jornada de se coordenarem.
Os componentes do Bitcoin e do Ethereum se encontram em funções já presentes nos tipos de nações anteriores.
Moeda. Cada nação possui sua própria moeda nativa.
Defesa. Mineradores/Stakers são as forças armadas (somente de defesa) de uma Nação Digital e são pagos pelos fundos gerados dos impostos das atividades econômicas dentro da nação digital.
Polícia. O protocolo de uma nação digital define as regras das atualizações do registro compartilhado. O protocolo atua como sua própria força policial, garantido que as regras da Nação sejam seguidas.
Fronteiras. O banco de dados da blockchain define as fronteiras da nação digital. Dados e informações ou estão no banco de dados ou não estão. ‘On-chain’ vs ‘off-chain’.
Negócios. Negócios nativos oferecem produtos/serviços em troca da moeda nativa.
Patriotas. Tanto nações digitais quanto físicas possuem seus respectivos leais, os quais participam em servir algo maior que eles mesmos. Nações físicas possuem patriotas que servem ao governo; nações digitais possuem ‘maximalistas’ que evangelizam e atraem outros a se juntarem a sua causa.
Valores. Nações de ambos os tipos possuem identidades intrínsecas ao grupo. “O que significa ser um Americano/Brasileiro/Alemao/Argentino” etc. é fortemente refletido na dicotomia de Bitcoiners e Ethereanos e a falta de compreensão e apreciação que ambos tem um pelo outro.
Nações digitais são o próximo passo rumo às organizações humanas em larga escala. A nação digital já fez mais avanços significativos em sua arquitetura comparada com seus semelhantes do mundo real, expondo também algumas das maiores falhas dos sistemas legados. Isto é alcançado através da utilização de novas tecnologias (geralmente relacionadas à criptografia), mas mais importante, ao reduzir o escopo sobre o que elas são responsáveis.
Nações físicas possuem um escopo indefinido e teoricamente ilimitado sobre as coisas. Infraestrutura, saúde, defesa, segurança, e regulações financeiras e econômicas são somente algumas das coisas sobre as quais as nações físicas geralmente se preocupam. Todavia, frequentemente as nações se esforçam em controlar as coisas muitas vezes denominadas ‘longe demais’ por seus membros. Assim como as religiões, estados-nação historicamente tem se esforçado em controlar e regular coisas que são muito distantes dos possíveis benefícios à economia.
A principal força que impede um enredo totalitário de um estado-nação é um retrocesso de seu eleitorado. O controle e influência das nações físicas se expandem até onde seu povo permite. Isso é um cabo-de-guerra que drena energia de todos os envolvidos, e por fim é uma taxa sistêmica na efetividade do sistema. Aqueles que dedicam suas vidas a supervisionar as ações do governo poderiam gastar seu tempo e energia com outras coisas mais efetivas se o protocolo da nação tivesse a capacidade de restringir formalmente isto.
Restrições Rigidas
Nações digitais se preocupam exclusivamente com valor e administração de valor. Apenas isto. As nações do Bitcoin e Ethereum não se preocupam com nenhuma das seguintes características:
Gênero
Raça
Religião
Idade
Idioma
Habilidade
Cidadania
Conexões pessoais.
Como resultado, Ethereum e Bitcoin tratam todas as pessoas igualmente. Cada pessoa é tratada exclusivamente por padrões objetivos: quais moedas e ativos eles possuem de acordo com a blockchain. Nestas nações, todos os homens e mulheres são todos iguais, e não existe nenhuma desculpa a respeito disto.
Pela primeira vez, humanos criaram uma versão de nação que não requer a existência de um ‘grupo-externo’. Bitcoin e Ethereum possuem a estrutura de uma Nação de algo com fronteiras definidas e grupos-externos definidos, para algo mais semelhante à Internet. Sem grupo-externo, acesso livre de permissão, sem necessidade de documento de identidade. Nações são sistemas sistemas feitos para maximizar a escala de coordenação, e o Bitcoin e o Ethereum são as primeiras nações que poderiam teoricamente abrigar todo o mundo como seus cidadãos.
Reduzindo a influência de Nações anteriores
Cada Estado-Nação físico possui seu próprio sistema monetário. Seu principal propósito é servir como uma ferramenta de manutenção do poder e controle que o estado-nação possui sobre seus constituintes. A capacidade de controlar dinheiro e valor é a principal arma que um estado-nação tem em seu arsenal para manter sua legitimidade. A capacidade de controlar o valor do dinheiro, junto à visibilidade panóptica que os estados-nação possuem sobre o dinheiro, ativos e comércio dentro de suas nações os proporciona um alto nível de poder e controle sobre seu domínio. Perder esse privilégio para as nações digitais como Bitcoin e Ethereum seria um golpe significativo sobre o poder do estado.
Se os constituintes de uma nação digital optarem por armazenar e administrar seus valores dentro de nações digitais como Bitcoin e Ethereum, então as nações tradicionais não terão mais essa responsabilidade. Se os cidadãos do mundo escolherem Bitcoin e Ethereum como sua plataforma de dinheiro e finanças, estados-nação perdem o monopólio sobre estes sistemas. Como consequência, os estados-nação perdem a capacidade de se sustentarem, uma vez que o sistema monetário que controlam não é mais usado ou desejado pelo povo.
[O bitcoin] desafia o privilégio mais valioso do Estado: sua capacidade de se financiar através da inflação e senhoriagem - Nic Carter, A Most Peaceful Revolution
Toda Nação possui um conjunto de crenças ou valores que são embutidos em seu protocolo. Talvez a crença mais importante que as nações digitais têm ‘embutidas’ em seu protocolo é a que diz que dinheiro e valor deveriam ser administrados por serviços de utilidade pública independentes, não um conjunto centralizado de pessoas com crenças subjetivas. Dinheiro é um bem público, não uma ferramenta do estado. De acordo com as nações digitais, nenhum grupo de pessoas deveria ser capaz de imprimir dinheiro, por bem ou por mal.
Essa crença é explicitamente declarada no bloco gênesis do Bitcoin: “Chancellor on Brink of Second Bailout for Banks” — “Chanceler próximo de aprovar segundo financiamento público para segurar a falência dos bancos”
O Ethereum incorpora os mesmos valores mas de um modo mais expansivo. Enquanto o Bitcoin é a instanciação concreta da separação entre Estado e Dinheiro”, o Ethereum é a instanciação da "Separação entre Estado e Economia”. Os valores do Ethereum ou, “o que significa ser um Ethereano” é a crença de que a economia pode e deve operar como uma infraestrutura independente do alcance do Estado-Nação.
Assim como o Estado-Nação decide que a Igreja não pertence à governança, Bitcoin e Ethereum similarmente dita que o Estado-Nação não deve governar o dinheiro e a economia, mas sim ser governado por estes.
De acordo com as Nações Digitais, o estado-nação deveria estar sujeito ao dinheiro e aos mercados, ao invés de o dinheiro e os mercados estarem sujeitos ao estado-nação. As adoções do Bitcoin e Ethereum são afirmações de que o estado-nação deveria estar sujeito às mesmas regras econômicas que todos nós estamos.
Bitcoin e Ethereum dizem ao Estado-Nação: “Não, você não pode imprimir dinheiro de graça. Não, você não pode banir ou controlar bens que você julga como ilícitos”.
Conclusão
A parte I e II de “Uma Nação Bankless” se preocupa primeiramente em contar a história da evolução dos vários esquemas organizacionais que humanos descobriram e aproveitaram através da história. O que é dito aqui é que Nações Digitais como Bitcoin e Ethereum são o próximo passo no que diz respeito à infraestruturas escaláveis que propiciam coordenação e comércio global.
As partes III e IV desse artigo vai se aprofundar nas partes constituintes destas nações digitais, incluindo suas próprias sub-nações como MakerDAO, Compound e Uniswap (spoiler: todos estes são sub-protocolos do protocolo principal do Ethereum, do mesmo jeito que estados são sub-protocolos do governo federal).
As ideias e conceitos discutidos aqui se apoiam amplamente sobre os pensamentos de outros. Caso queira saber mais sobre estes assuntos, por favor refira-se aos seguintes:
Nick Szabo, Money, Blockchains, and Social Scalability
Nic Carter, A Most Peaceful Revolution
Yuval Noah Harrari, Sapiens
James Dale Davidson, William Rees-Mogg, The Sovereign Individual
Mão na Massa
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