Uma Nação Bankless 🏴 (Parte I)
Bitcoin e Ethereum são Nações Digitais: um novo paradigma de como os humanos se organizam e coordenam.
Prezada nação Bankless,
Extraterrestres visitam a terra. Eles veem nossas cidades, nossa tecnologia, nosso código moral.
Eles estão curiosos. Perguntam: o que vocês estão fazendo aqui?
Os Humanos respondem: nós estamos tentando nos coordenar.
Coordenação.
Essa palavra reusme o progresso humano.
E o que acontece quando nós inventamos um jeito melhor de nos coordenar — uma nova nação?
Exploraremos a Nação Bankless hoje.
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Uma nação Bankless — Parte I 🏴
Texto escrito originalmente por David Hoffman, co-fundador do Bankless.
Nesse texto, vamos destrinchar o conceito de “Nação” em seus componentes fundamentais com o objetivo de entender o que é uma “Nação”, com outros olhos. Juntos, vamos voltar no tempo e relembrar os exemplos históricos de Nações, sumarizando o que as fizeram bem-sucedidas, e criticar o que as fizeram se abalar.
Esse é um artigo mais longo, que vamos dividir em 4 partes. Na parte 2 faremos uma ilustração de como o Bitcoin e o Ethereum são as próximas iterações de Nações. Enquanto Nações Digitais como Bitcoin e Ethereum existem em um novo paradigma, elas incorporam papéis similares e construções de Nações que vieram e se foram ao longo do tempo.
As partes III e IV deste texto exploram essas Nações Digitais mais a fundo, especialmente como elas se relacionam com o indivíduo e como podem impactar significativamente a vida de alguém. Fique ligado para a sequência dessa série se inscrevendo no Bankless Brasil!
Nações Digitais
Para os que veem de fora, essa indústria é frequentemente chamada de indústria das “criptomoedas” ou “blockchains”. Essa nomenclatura está lamentavelmente imprecisa, mascarando e menosprezando o que estes sistemas realmente são:
‘Cripto-’ refere-se à criptografia, que é o sistema de provas e garantias matemáticas que sustentam as regras de atualizações dos sistemas, mas não é o sistema em si.
‘-Moeda’ refere-se ao ativo nativo e escasso de cada sistema, mas não é o sistema em si.
‘Blockchain’ refere-se à base de registros compartilhados; a fonte-da-verdade usada por todos os outros componentes que compõem o sistema, mas não é o sistema em si.
Esse é um ótimo exemplo da parábola do “homem cego sentindo o elefante”. Nenhuma dessas coisas representa o sistema em sua totalidade. Nomear esses sistemas por esses componentes é confundir a floresta pelas árvores. Chamar o Bitcoin de “uma blockchain” é menosprezar (e muito) seu verdadeiro potencial.
Esses sistemas são composições holísticas de diferentes componentes interconectados, tecidos por um sistema de incentivos, agentes racionais e comandos/respostas. O produto emergente dessa composição é muito maior do que a soma de cada parte individual. Achar um nome preciso para o emergente produto desses sistemas tem sido difícil. Na verdade, o único nome que realmente compreende todo o escopo desses sistemas são seus próprios nomes: Bitcoin e Ethereum.
Na verdade, Ethereum e Bitcoin são neo-nações. Assim como nações físicas, Bitcoin e Ethereum são compostos por sistemas de incentivos, agentes, e comandos/respostas. Eles são corpos unificados de stakeholders, agentes econômicos, software e hardware. Assim como as nações antes deles, eles agem como ferramentas, ou infraestrutura, que habilitam indivíduos e os ajudam a atingir os seus objetivos pessoais.
Definindo uma Nação
A definição de “Nação” da Wikipédia:
Nação é uma comunidade estável, historicamente constituída por vontade própria de um agregado de indivíduos, com base num território, numa língua, e com aspirações materiais e espirituais comuns.
Essa definição de Nação é enviesada a favor dos estados-nação físicos que conhecemos — Brasil, EUA, China, etc. Entretanto, uma nação é um esquema organizacional que humanos usam para se orientar no mundo ao seu redor. Nações são sistemas que humanos usam como plataforma para suas atividades diárias; eles criam a estrutura para os componentes que as compõem. Não somente muitas nações surgiram e se foram com a passagem do tempo, mas muitos tipos diferentes de nações apareceram, amadureceram, envelheceram, e eventualmente morreram para que novas nações tomassem seus lugares.
Nação-organismo
Uma nação é um sistema composto de diversas partes independentes, cada uma trabalhando para atingir os seus objetivos individuais. Esses componentes independentes são conectados por um protocolo central que produz consenso e coordenação entre cada componente. O objetivo de cada componente individual é de prosperar ao melhor de suas habilidades, e os resultados coletivos de todos esses componentes discretos ajudam o sistema composto atingir seu principal propósito: produzir um ambiente saudável e nutritivo para cada parte-componente. O sucesso de cada indivíduo componente contribui para o sucesso do sistema como um todo, que então produz um ambiente melhor para que os componentes operem dentro dele. Esse ciclo de feedback é como as Nações-organismo crescem.
Nações são como corpos. Elas são criaturas com órgãos internos, defesas protetivas e ataques perigosos. Elas consomem recursos, geram resultados e produzem rejeitos. Elas são primariamente preocupadas com sua própria sobrevivência. Elas têm sistemas defensivos e ofensivos que as mantêm vivas. Elas se encontram em um mundo de escassez e devem competir com outras para fazer o que é melhor para elas mesmas. Nações geralmente se agrupam com a intenção de aumentar suas chances individuais de sucesso.
Nações são ferramentas que humanos aproveitam para garantir estabilidade em suas vidas. Elas oferecem estruturas organizacionais das quais as pessoas dependem para coordenação, confiança, e proteção. A nação garante seu sustento por meio da cobrança de impostos, os quais as pessoas pagam com prazer desde que percebam os retornos e os benefícios sobre este custo. A nação protege e organiza as pessoas, bem como as pessoas pagam impostos para a manutenção da nação.
Uma nação é:
Uma rede conectada de componentes independentes.
Um protocolo para que esses componentes operem e se comuniquem.
O protocolo permite aos componentes se conectarem de uma maneira simples e eficiente para que os esforços de um componente beneficiem os demais. O protocolo é responsável por coordenar todos os seus componentes constituintes. Quanto mais rápido e eficiente um protocolo conseguir coordenar dois componentes constituintes, menos recursos a nação consome. Como consequência, os resultados das produções da economia são maximizados, o que permite um maior crescimento dos componentes constituintes.
O protocolo de uma nação é o seu DNA. Ele é o código que dita como o resto do corpo deve se formar e se desenvolver. O corpo de uma nação é a composição de diferentes sistemas e agentes em diferentes escalas:
Células: Os indivíduos da população; prioritariamente preocupados com sua própria sobrevivência e modo de vida. Cada célula possui uma função específica e é familiar somente com o seu próprio ambiente local.
Órgãos: Coleções de células que naturalmente se organizaram com a intenção de atingir um objetivo específico:
O Coração (entrega de recursos)
Fígado (Sistema de Saúde)
Cérebro (Governo)
Rins (Remoção de rejeitos)
Pele (Fronteiras e Forças Armadas)
Sistema Imunológico (Força Policial)
Os órgãos de uma nação são as instituições que desempenham funções-chave para a sobrevivência da nação como um todo, e a falha de um único sistema pode levar à falha de todos os demais.
Corpo: O corpo é o resultado emergente do funcionamento efetivo de seus órgãos constituintes. O corpo é a nação.
Sob essa ótica é possível olhar para a história com uma perspectiva diferente sobre o que as nações são, e como elas agem. Diferentes nações oferecem melhores ou piores plataformas para seus componentes. A alteração de DNA entre nações faz uma diferença crítica em como a nação se manifesta ao amadurecer, e quão bem-sucedida ela será a longo prazo. Até agora, nunca houve uma “Nação Eterna”; todas elas nascem, desenvolvem, amadurecem, e morrem. Cada nação possui uma adaptação relativa ao mundo à sua volta. O ambiente em constante mudança ao redor de uma nação a estressa e desafia sua habilidade de se adaptar a novos desafios e novos comandos.
Escalando a Confiança
Olhando o progresso da história humana através de uma perspectiva macro, o escalonamento de confiança, coordenação, e comércio de grandes grupos de pessoas podem ser vistos como o principal objetivo da espécie humana até agora.
Se alguém nos perguntasse: “O que estão fazendo aqui?”, os humanos poderiam responder: “Nós estamos tentando nos coordenar!” Ou talvez, os humanos primeiro precisariam “se coordenar” para então formular uma resposta para a pergunta “Qual é o nosso propósito coletivo?”. De qualquer maneira, o nosso objetivo principal como espécie é de criar uma nação que possibilite coordenação em uma escala grande o suficiente para que ela possa trabalhar coletivamente em direção a um objetivo comum.
As nações que foram descobertas e criadas ao longo dos tempos têm tido diferentes resultados quanto a sua habilidade de escalar confiança e de proporcionar comércio. A habilidade de escalar confiança e organizar humanos depende em quão eficiente e efetiva a nação é. Nem todas as nações são boas em organizar pessoas, e nações ineficientes em escalar confiança irão por fim sucumbir àquelas que são melhores nessa função. Essa é a marcha natural de evolução e progresso.
O número de Dunbar
O número de Dunbar é um limite cognitivo sugerido de número de pessoas com as quais um indivíduo consiga manter relações sociais estáveis.
O número de Dunbar dos humanos é de aproximadamente 150 pessoas. A maioria das espécies, especialmente mamíferos, operam em grupos sociais e possuem seu respectivo número de Dunbar para o quão grande um grupo pode crescer antes que o sistema natural social de freios e contrapesos se rompa, e o grupo se divida em dois.
No final das contas o número de Dunbar é sobre confiança: quão bem um grupo de agentes pode manter uma memória precisa de quem eles podem ou não confiar. O número de Dunbar propõe que é impossível conhecer mais de 150 pessoas com informações suficientes sobre cada indivíduo a fim de manter uma relação confiável com cada pessoa.
Manifestações reais do número de Dunbar podem ser vistas nas diferentes formas que as espécies entendem, agem com justiça e confiam nos seus pares. Aqui estão três exemplos salientes que ilustram como mamíferos se curvam diante confiança:
Morcegos Vampiros consomem entre 50 e 100 por cento do seu peso corporal em sangue todas as noites. Um morcego que não consegue se alimentar irá perecer rapidamente, a menos que solicite alimento de um amigo. A chave para a sobrevivência desses animais é um sistema elaborado de compartilhamento de alimento, o qual se baseia em altruísmo recíproco, e na confiança de que se você falhar em se alimentar, seu parente irá lhe ajudar. Mais importante ainda, morcegos que se negam a compartilhar alimento com um amigo necessitado não serão auxiliados por outros no futuro.
Dois Macacos Rhesus são recompensados ao completarem uma tarefa. Um é recompensado com um pepino (um agrado ok), enquanto o outro é recompensado com uma uva (um ótimo agrado!). O primeiro Macaco Rhesus se recusa a aceitar o pepino em protesto! A confiança que o macaco Rhesus tinha em seu cuidador está DESTRUÍDA, devido ao óbvio favoritismo.
Bebês. Mesmo antes de completarem seu primeiro ano de idade, os bebês já têm mostrado entender o significado de justiça, e os benefícios de confiança e colaboração. Assista, conforme a criança observa o show de fantoches que retrata alguns fantoches ajudando outros, e outros fantoches frustrando outros. Logo em diante, os bebês mostram uma clara preferência pelos fantoches que se mostraram úteis aos fantoches em atingir seus objetivos, porque, aparentemente, eles sabem que podem confiar naquele fantoche.
Quando se trata de relações, confiança é um lubrificante. Confiança é um substrato que sustenta não só famílias e amizades, mas também negócios e economias. Atividades econômicas e trocas entre partes confiáveis é mais fácil e mais eficiente quando os pares confiam uns nos outros.
A visão macro da espécie humana nos faz descobrir novos e melhores sistemas para estabelecer maiores níveis de confiança, ao longo de distâncias maiores. O número de Dunbar assemelha-se à camada base de sistemas de confiança, criada pelo ajuste evolucionário que grupos sociais possuem sobre indivíduos. Todas as nações que os humanos já descobriram foram estabelecidas em cima de uma fundação de segurança em outros.
Dualidade entre Protocolo e Economia
Protocolos suportam economias que suportam protocolos
Nações, ou esquemas organizacionais são protocolos. Protocolos ditam as regras do sistema com a intenção de estabelecer padrões nos quais todos podem confiar. Protocolos, e as padronizações que eles criam, são cruciais para eficiência. Se todos pudessem assumir que estão operando sob os mesmos padrões, o trabalho pesado de coordenação já teria sido feito.
“Internet Protocol” ou IP, é o protocolo de comunicação que computadores usam para estabelecer conexões. Toda a internet é construída sobre o fato de todos os computadores estarem usando o mesmo IP. É totalmente possível construir uma nova internet com um IP totalmente novo, mas uma vez que já temos os protocolos atuais (e eles estão funcionando muito bem) todo mundo precisa usar esses protocolos para se conectar à “internet”.
Uma vez que todos usam o mesmo IP, todos se conectam à mesma internet. Como resultado, a internet têm sido uma benção para a produtividade global, não somente em comunicação e comércio, mas também em socialização interpessoal e criação cultural.
O propósito de um protocolo é de aumentar a velocidade e eficiência com as quais os humanos conseguem progredir. “Progresso” tem sido usado bastante aqui: protocolos nos ajudam a atingir nossos objetivos individuais e coletivos mais rápido, não importa quais sejam esses objetivos.
Religião, estados-nação, internet e acordos comerciais representam protocolos que ditam como alguém deveria se coordenar com os demais. Cada uma dessas coisas provê regras e regulações que devem ser respeitadas coletivamente para que o protocolo funcione, e para que as pessoas que o usam progridam.
Protocolos Neurais e Não-Neurais
Protocolos habilitam eficiência, mas eles não ditam para onde essa eficiência deve ser direcionada; somente humanos podem fazer isso. Protocolos neutros não determinam quais deveriam ser os nossos objetivos, eles somente nos ajudam a conquistá-los.
Por meio da história, nós temos visto exemplos de protocolos que possuem valores humanos subjetivos ‘embutidos’. Esses protocolos tendem a causar problemas na sua maturidade. Quando protocolos não-neutros possuem monopólio sobre seu domínio, ele pode exercer suas influências subjetivas sem controle. Vide: todas as guerras e conflitos religiosos, a Rússia comunista, a revolução Maoista.
Os melhores protocolos são aqueles sem valores subjetivos ‘embutidos’ ao nível de protocolo. A internet é um bom exemplo disso; usar a internet não te força a se tornar um comunista. É por causa disso que a separação entre Igreja e Estado é tão importante; os valores subjetivos da Igreja não deveriam ser impostos àqueles que não se consideram como parte da Igreja. A habilidade de ‘se retirar’ de um protocolo é crítica. Um protocolo deveria ser uma infraestrutura para o indivíduo expressar seus próprios valores e desejos, mas não de impô-los a outros.
Nutrir uma Economia
Bons protocolos nos ajudam a conquistar nossos próprios objetivos únicos sem ditar quais esses objetivos deveriam ser. Isso pode ser difícil, uma vez que os objetivos de muitas pessoas podem entrar em conflito. A única maneira que um protocolo pode ajudar a todos atingirem seus objetivos, sem beneficiar um grupo específico, é por confinar o escopo do protocolo.
Bons protocolos nutrem economias e somente isso. A ‘economia’ é uma ferramenta que as pessoas usam para atingir as suas próprias finalidades pessoais, e protocolos neutros estabelecem uma economia neutra. Ter uma economia forte, robusta e rica é a forma de como um protocolo pode ajudar a todos a atingirem os seus objetivos pessoais, sem se preocupar com quais são esses fins. Produzir uma economia forte é a melhor maneira que um protocolo pode nos ajudar a atingir os nossos próprios objetivos subjetivos enquanto mantêm uma credibilidade neutra sobre esses objetivos.
Protocolos nasceram e morreram ao longo da humanidade. Cada novo protocolo tende a se aperfeiçoar sobre os protocolos anteriores. Ao longo do tempo, os protocolos carregados de subjetividade, fricções sistêmicas e limites sobre liberdades são substituídos por novos protocolos com menos dessas coisas.
No próximo artigo vamos focar nos três principais paradigmas dos esquemas organizacionais (protocolos) humanos ao longo da história. Entretanto, existem vários passos intermediários que não serão discutidos (Animismo, monarquia, etc).
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Post Original: A Bankless Nation - Part I
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