Por que precisamos de oráculos descentralizados (parte II)
Entendendo a usabilidade das Redes de Oráculos Descentralizados (RDO).
Prezada Nação Bankless,
Na primeira parte deste artigo exploramos o funcionamento técnico dos Oráculos Descentralizados e como essa ferramenta complementa as redes de blockchains.
Hoje vamos mergulhar a fundo nas usabilidades e casos de uso atuais das Redes de Oráculos Descentralizados. Aliás, sem eles muito do mundo cripto que conhecemos não seria possível.
Vamos subir de nível.
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Casos de Uso de Redes de Oráculo Descentralizadas (RDO)
Mesmo havendo um número virtualmente ilimitado de casos de uso para contratos inteligentes permitidos por RDOs, eu cobrirei alguns que eu acredito terem poder disruptivo significante a curto, médio e longo prazo (incluindo exemplos de aplicativos DeFi que você provavelmente já ouviu falar). Com o ecossistema cripto em uma rajada constante de inovação e progresso, estes casos de uso continuarão a serem expandidos ao longo do tempo para atenderem às necessidades de seus usuários.
1. Feeds de Preço e Finanças Descentralizadas
O primeiro e maior caso de uso que vemos para contratos inteligentes movidos a RDOs hoje são as Finanças Decentralizadas, também conhecido como DeFi. Podendo se dizer o produto mais popular de tecnologia de blockchain, o DeFi provê uma alternativa descentralizada, livre de permissão, não custodial, e resistente a censura ao sistema financeiro tradicional defasado de hoje. Porém, o que é menos entendido é que o ecossistema DeFi foi possibilitado precisamente porque RDOs existem.
Por exemplo, a aplicação DeFi Aave está em primeiro lugar quando o assunto é “valor total trancado” . Aave é um mercado financeiro descentralizado que permite que usuários façam e tomem empréstimos de dúzias de diferentes tokens on-chain.
Isto cria um mercado de dois lados onde credores podem ganhar juros em seus tokens ociosos e tomadores de empréstimos ganham acesso a capital para utilizarem onde quiserem. Protocolos de mercado financeiro descentralizados como Aave, Compound, Cream, Rari e mais usam Price Feeds da Chainlink para calcularem o tamanho máximo de empréstimos durante a criação de uma posição além de determinar quando posições se tornam sub colateralizadas e devem ser liquidadas, mantendo o mercado como um todo solvente.
Enquanto mercados financeiros baseados em DeFi hoje são focados especificamente nos empréstimos de stablecoins e criptomoedas nativas, novos mercados podem e serão criados no futuro para apoiarem ativos tokenizados na vida real. Por exemplo, isto permite que usuários emprestem contra imóveis tokenizados na substituição de uma hipoteca ou emprestar CBDCs (Moedas digitais de bancos centrais) para bancar sua empresa. Como infraestrutura generalizada, tais mercados podem teoricamente apoiar qualquer tipo de ativo tokenizado que existirá de maneira retrocompatível graças aos padrões de token como ERC20 e ERC721.
Outro primitivo financeiro poderoso possibilitado pelos RDOs da Chainlink são protocolos como o Synthetix, que permitem que usuários gerem ativos sintéticos que são sobrecolateralizados por cripto em cadeia (SNX) e espelham o preço de ativos na vida real como criptomoedas (por ex. BTC, ETH, LINK), moedas fiduciárias (por ex. USD, EUR, JPY), comodidades (por ex. ouro, prata, petróleo), índices (por ex. FTSE, N225, sDEFI), e corporações (por ex. TSLA, GOOG, AMZN). Bancados por um pool de dívida global, usuários podem “trocar” seus ativos sintéticos a zero slippage por qualquer outro sintético apenas trocando o feed de dados que determina o valor de seus tokens.
Através da combinação de colateral non-chain e feeds de dados do Chainlink, versões sintéticas de qualquer ativo ou métrica no mundo real podem ser trazidos em cadeia na economia cripto, incluindo valores de propriedades, medidas de inflação, valor agregado de materiais brutos, TVL de um protocolo específico, o número de seguidores do Vitalik no Twitter, ou qualquer outra medida que possa ser quantificada e digitalizada como um feed de dados on-chain.
O potencial aqui não tem limites, permitindo a usuários tokenizar qualquer coisa e começar a especular e apostar sem ter que deixar o ecossistema on-chain.
Há um número de outros casos de uso de DON no ecossistema DeFi, como stablecoins descentralizadas ou algorítmicas, agregadores de rendimento, exchanges descentralizadas, perpetuais, opções futuros, tokens de rebase, mercados preditivos, yield farming, gerenciamento de ativos, tokens cross-chain, rendimento de taxa fixa, e muito mais.
2. NFTs Dinâmicos e Variáveis Aleatórias
NFTs viram um pico imenso de atenção pública em 2021, com volume de troca e a notável diversidade de tokens gerados. Enquanto muitos destes NFTs são imagens estáticas ou GIFs, também vimos o surgimento de NFTs dinâmicos apoiados por plataformas de NFT como o Ether Cards, que transforma a experiência de adquirir e possuir NFTs em um jogo via comandos de dados externos.
Estes comandos externos podem incluir dados do mundo real que alteram as propriedades do NFT em tempo real. Isto inclui NFTs de esportes cujo valor são atrelados a dados de desempenho de atletas ou mercados que permitem a artistas mudarem sua arte digital ao longo do tempo, como um NFT que muda o fundo de uma imagem conforme o clima e tempo em Nova York. Uma maneira cada vez mais comum para NFTs e aplicativos on-chain de jogos serem melhorados por dados externos é usando soluções de aleatoriedade verificável como o Verifiable Random Function (Função Aleatória Verificável, VRF).
Com aleatoriedade verificável, desenvolvedores podem aprimorar seu NFTs alocando traços provavelmente aleatórios, distribuições, e atividades de cunhamento. Um exemplo de uma plataforma baseada em NFT que usou aleatoriedades verificáveis na sidechain da Polygon é o Aavegotchi.
No lançamento, o contrato inteligente do Aavegotchi utilizou aleatoriedades on chain milhares de vezes para determinar quais usuários de NFTs do Aavegotchi receberam após abrirem “portais” (que tinham uma reserva limitada de 10 mil). Com este jogo baseado em aleatoriedade, usuários podiam participar em um “metagame de caçar raridades” onde usuários tentam cunhar NFTs raros ou evoluir o nível de NFTs ganhando sorteios ou outros jogos.
Outro grande exemplo inclui o aplicativo de NFT de jogos on-chain cada vez mais popular, o Axie Infinity, que usou aleatoriedade verificável para determinar os traços de um Origin Axies recém-cunhado. Tais Axies podem ter a chance de possuir partes de Mystic, que foram vendidas por mais de 300 ETH.
Pela criação de NFTs dinâmicos, uma experiência de usuário totalmente nova sem paralelos no mundo Web 2.0 é introduzida.
3. Trilhas de Auditoria on-chain e Prova de Reserva
À medida que o ecossistema de contratos inteligentes cresce, a quantidade de stablecoins, ativos cross-chain, e ativos tokenizados da vida real também crescem. Porém, o apoio colateral destes tokens está off-chain, significando que contratos inteligentes não podem acessar nativamente os dados exigidos para auditar estes tokens e garantir colateralidade apropriada.
Isto resulta em novos riscos relacionados a transparência, subcolateralização, e empréstimo de reserva fracionária. RDOs podem ser usados para superar este problema através de feeds de Prova de Reserva (proof of reserve, PoR), que providenciam os dados on-chain necessários para verificar um colateral fora de cadeia de um token.
Tendo uma trilha de auditamento sob-demanda, on-chain para tokens colateralizados para ativos fora de cadeia, usuários ganham acesso a maior transparência e contratos inteligentes podem rapidamente se proteger contra atividades de reserva fracionária implementando lógica específica aos aplicativos que se executam quando a subcolateralização é detectada. Por exemplo, um aplicativo DeFi pode pausar seus serviços temporariamente ou impedir a cunhagem de mais tokens dos ativos subcolateralizados específicos. Prova de Reserva não só ajuda a impedir riscos sistemáticos como a grande crise financeira de 2008, mas também cria um ecossistema DeFi mais confiável para todos.
No caso de stablecoins, que tendem a ser colateralizadas por dólares americanos em uma conta bancária off-chain, existe a Prova de Reserva tanto para a stablecoin PAX do Paxo além da stablecoin TUSD do TrustToken. Com o segundo, dados de reserva são providenciados pela Armanino, uma firma de auditoria americana que providencia atualizações em tempo real que atestam participações bancárias em dólar americano off-chain do TrustToken que apoiam o stablecoin TUSD. Dado que o TUSD existe em várias blockchains, eles lançaram feeds de dados de Proof of Reserve e Proof of Supply no Ethereum, que podem ser usados por um aplicativo de contrato inteligente antes de permitir usuários a se engajarem em atividade econômica com o stablecoin.
Além de Stablecoins apoiados pelo dólar americano, também vemos a realidade multi-chain se desdobrar, onde usuários querem transferir suas criptomoedas entre blockchains, como trazer seu BTC ao Ethereum para ser usado com o ecossistema DeFi. Neste caso, vimos o renBTC do Ren Protocol e os tokens WBTC do BitGo lançarem feeds de PoR para auditarem as verdadeiras participações de BTC no blockchain do Bitcoin que apoia estes tokens cross-chain. De maneira parecida, contratos inteligentes podem referenciar estes feeds antes de permitirem interações com tokens cross-chain, protegendo usuários das consequências de tokens sem apoio como empréstimos tóxicos ou fazer trocas injustas.
O conceito de feeds de PoR com RDO vai muito além destes casos de uso e podem permitir a auditoria de tokens apoiados por ativos reais, como imóveis tokenizados. Isto inclui providenciar informação de verificação a respeito da posse e dos fluxos monetários das propriedades no blockchain, permitindo que usuários e contratos inteligentes analisem a verdadeira natureza dos ativos que apoiam estes tokens. Enquanto a economia DeFi engole a economia tradicional, a necessidade por transparência on-chain continuará aumentando.
4. Computação off-chain e Keepers
Uma suposição errada, mas comum, sobre a natureza de contratos inteligentes, é que eles são autônomos, mas na realidade estão “dormindo” por padrão e devem ser “acordados” para executarem quaisquer mudanças de estado. Isto requer uma transação on-chain assinada e iniciada por um portador de chave privada, também conhecido como Externally Owned Account (Conta Possuída Externamente, EOA). Isto é aceitável para casos de uso onde os próprios usuários estão interagindo on-chain, mas há muitas funções do contrato inteligente que devem ser acionadas em um tempo padronizado ou uma agenda baseada em eventos.
Enquanto RDOs são conhecidas por providenciar serviços de entrega de dados, elas também podem realizar formas de confiança mínima de computação off-chain. Isto inclui providenciar um serviço de automação de transação descentralizada na forma de Keepers ou “Guardadores”, que monitoram o estado on-chain de um contrato inteligente e/ou eventos da vida real para acionar autonomamente funções on-chain conforme solicitado. Uma implementação disto é o Chainlink Keepers, que usam o mesmo conjunto de nódulos de oráculos que já provaram sua confiabilidade operando Feeds de Dados descentralizados.
Um exemplo de caso de uso de Keepers é liquidar automaticamente empréstimos subcolateralizados para mercados monetários descentralizados como o Aave. Aqui, os Guardadores monitoram as posições na plataforma e acionam a função de liquidação em quaisquer empréstimos que caiam abaixo do limite de liquidação do conjunto específico. O contrato inteligente da Aave então verificam a liquidação on-chain consultando Feeds de Preço da Chainlink e aí comçam o processo de liquidação. Como resultado, o mercado monetário providencia a usuários garantias aumentadas sobre a solvência da plataforma por robôs de liquidação altamente confiáveis.
Dado que Keepers providenciam um serviço de transação automatizada generalizado, qualquer função de contrato inteligente pode ser automatizada incluindo executar ordens de limite, colher rendimentos, emitir recompensas de apostas, rebasear stablecoins algorítmicas, liberar tokens, preencher saldos de tokens, gerenciar posições de dívida, mudar estratégias de rendimento, e muito mais.
Conclusão
Redes de Oráculo Descentralizadas (RDOs) expandem as capacidades das redes de blockhain e dos aplicativos de contratos inteligentes, permitindo-as alcançar seu verdadeiro potencial de providenciar acordos digitais superiores que se executam exatamente como esperado para um grande alcance de casos de uso.
Enquanto o DeFi é a prova mais clara disto hoje, é mais que possível que os próximos grandes casos de uso de contratos inteligentes a serem adotados serão um resultado direto de desenvolvedores tendo acesso on-chain aos dados da vida real através dos RDOs.
Há simplesmente um número inimaginável de casos de uso possíveis e o futuro nunca pareceu tão brilhante.
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Post Original: Why we need decentralized oracles - by Ryan Sean Adams
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