Vale a Pena Mintar NFTs em Blockchains Ruins?
Artes boas em blockchains ruins valem a pena serem colecionadas?
Por: Nonsense
Arte do cabeçalho por @debrabdesign no Twitter. Você pode encontrar o trabalho dela no Formfunction, com uma nova série prestes a ser lançada no Foundation.
No mundo da arte física e tangível, colecionadores percorrem grandes distâncias para certificarem suas peças como originais. Pinturas feitas por artistas clássicos ou populares são muito requisitadas, e valorizadas de acordo com a procura. Se um colecionador não consegue verificar a autenticidade de uma peça, ele não consegue vendê-la, garanti-la ou doá-la. Se ele quiser vender uma obra, ela será vendida por muito menos do que seu valor intrínseco, ainda que seja autêntica.
Os NFTs resolvem isso criando mecanismos de prova, verificação e titularidade na hora de sua criação. No entanto, para que esses mecanismos tenham valor é necessário que a blockchain na qual eles estejam fique ativa. Isto levanta a questão, artes boas em blockchains ruins valem a pena serem colecionadas?
Qualquer pessoa pode salvar um JPEG e visualizá-lo em seu dispositivo. No entanto, aquele JPEG, por si só, não dá ao dono acesso a qualquer uma das utilidades por trás do NFT sobre o qual o JPEG foi criado. Às vezes, mintar um NFT permite, à carteira que o mintou, acesso à comunidades, itens adicionais, produtos e eventos que, ao contrário, seriam inacessíveis ao público geral. A tecnologia da blockchain permite o reconhecimento de titularidade digital de maneiras que outras formas de tecnologia nunca permitirão.
“Copia a imagem. E daí? Eu sou dono dos dados que existem na blockchain por trás do NFT. É o dado que me dá acesso.”
Considerando o aspecto da propriedade, há uma razão para casas de leilão de alto escalão como Sotheby’s e Christie’s adotarem esta tecnologia e operarem seus próprios metaversos separados: a tecnologia da blockchain hoje oferece uma maneira viável de rastrear a titularidade legítima no mundo digital.
Em espaços tradicionais de arte, quando você compra uma arte de um artista, você está levando para casa um bem tangível. Isto pode tomar a forma de uma escultura, pintura em tela, ou qualquer outra mídia física na qual aquele artista cria. Cópias de tais obras podem ser compradas, mas é óbvio que elas não são a obra original, e têm um valor muito reduzido.
NFTs são para obras originais de arte tangível o que o “clique com o botão direito para salvar” é para as impressões. Contratos inteligentes pelos quais um NFT é produzido podem ser verificados. A titularidade pode ser verificada. Cópias podem ser verificadas como falsificações.
No final, a viabilidade desta verificação é dependente da blockchain na qual um NFT é mintado. Se a blockchain estiver fora do ar, de qualquer maneira, impossibilitando a verificação dos dados do NFT na carteira de um usuário, aquele NFT nada mais é do que um JPEG caro. Literalmente.
Tome, por exemplo, o blackout recente da blockchain Solana, um fenômeno que não é raro:
A rede Solana está passando por problemas técnicos e não está processando transações. Desenvolvedores do ecossistema estão trabalhando e diagnosticando o problema para reiniciarem a rede. Mais informações serão disponibilizadas assim que possível.
Eu não sou um maxi de blockchain; estou aberto a investir em projetos e comprar arte em qualquer blockchain viável. Mas neste caso, viável é o termo em trabalho.
De acordo com a Forbes, ecoando uma declaração feita pelo Vitalik enquanto discutia viabilidade de blockchains, “ao construir uma blockchain, desenvolvedores têm que decidir quais problemas críticos eles resolverão: Descentralização, Segurança ou Escalabilidade”:
“A Ethereum priorizou descentralização e segurança às custas da escalabilidade… isto resultou em uma enorme ‘congestão’ e taxas altas de gas, particularmente quando os NFTs explodiram em popularidade… a Solana sacrificou a descentralização para priorizar segurança e escalabilidade.” - McMillan
Aquele sacrifício custou à Solana uma operação absoluta. Conforme o Motley Fool, a Solana caiu 12 vezes só em 2022. Se pararmos para pensar, isto é o equivalente a uma queda por mês. Enquanto isto pode ser considerado praticamente fidedigno, é razoavelmente aceitável?
O mercado decidiu que não: as quedas aumentaram pressão de venda do token nativo da Solana, SOL, fazendo-o perder mais de 78% do valor de sua alta histórica mais recente. Enquanto vários tokens caíram em valor durante este bear market recente, o SOL andou caindo e caindo em valor desde 6 de novembro de 2021, de acordo com a CoinDesk, muito antes do começo do bear market.
Quando se trata de tokens deste tipo, sair da sua posição é uma simples questão de trocar ou vender. Isto só se torna problemático quando a liquidez está baixa.
NFTs, no entanto, são um tipo diferente de monstro.
Se você quiser se livrar de um NFT, você precisa de um comprador de plantão para tomar os riscos e as responsabilidades de ser dono daquele NFT. Se usuários estão saindo de uma blockchain na qual um NFT é hospedado, isto pode ser incrivelmente difícil.
Enquanto arte é arte, não importa onde for disponibilizada, o meio importa quando se trata de proveniência e titularidade verificáveis. E quando consideramos NFT como um meio, a viabilidade da tecnologia subjacente importa. Um dos maiores fatores motivando a adoção de NFTs é a ideia de titularidade digital.
Muitos fazem piadas sobre “salvar com o botão direito”, mas isto não faz nada para modificar a titularidade de um NFT e tudo o que aquilo significa. Isto merece um exame em detalhes maiores.
Metadados, artes e colecionáveis podem mudar, mas no final, o próprio NFT representa o hash em uma blockchain e atrela aquele hash ao usuário que o criou, mintou ou comprou. Ser dono de um NFT, então, implica na titularidade do que aquele hash permite dentro do contexto do ecossistema da blockchain na qual ele é mintado.
Como isto se aplica à Solana?
Não dá pra verificar titularidade quando uma rede está fora do ar.
Um exemplo: você compra um NFT na Solana. Você quer se juntar à comunidade do artista e ganhar acesso às categorias “exclusivas para membros”. Você conecta o endereço da sua carteira ao cryptobot residente, e não consegue ser verificado. O robô não consegue verificar seus dados porque a Solana está fora do ar. Tudo bem, você acha, a Solana vai voltar ao ar.
E se tiver algo mais em jogo, ou sua transação for sensível ao tempo? Talvez você dê um lance em uma arte, ou seu artista favorito acabou de lançar seu mint público. Ou talvez você esteja tentando comprar ingressos pro jogo do seu clube de futebol favorito. Talvez você queira acesso a uma variedade de eventos privados de esporte. Talvez você queira entrar de cabeça no último drop de sapatos. Nada disso funciona se a blockchain na qual os NFTs foram mintados não estiver em operação.
Após mais de 12 quedas em um ano, quantas vezes ela deve cair até a maioria da comunidade finalmente vender e sair?
Pausas arbitrárias de uma blockchain, sejam de bugs técnicos (Solana) ou pausas manuais (BNB), comprometem a razão de ser do experimento Web3. Este experimento pode ter começado com a meta de democratizar as finanças, mas já expandiu para incluir uma gama de outras características. Com DAOs, estamos revolucionando a maneira que trabalhamos. Com NFTs, estamos revolucionando o papel e a experiência da arte e da utilidade no mundo digital. Nada disso é possível se a tecnologia subjacente for instável.
A essa altura, há mais chances de a Solana falhar por completo do que dar uma volta por cima. É uma consideração de pouca fé, mas seu desempenho este ano até agora fez pouco para inspirar fé em qualquer nível. Se a Solana falhar, aquele NFT que você comprou será inútil.
Você pode até falar que ao comprar um NFT, você está apoiando a obra do artista, o que é admirável. Porém, se o reconhecimento da titularidade não for um fator-chave ao comprar um NFT, faria mais sentido simplesmente financiar o trabalho do artista diretamente tornando se um patrono, em vez de comprar um produto que pode não ser viável a longo prazo.
Isso tudo não é para dizer que outras blockchains não serão viáveis a longo prazo. O fato de outras blockchains operarem com consistência bem melhor que a da Solana demonstra fé maior nas comunidades subjacentes construindo aquelas blockchains.
Para muitas comunidades de desenvolvimento de blockchain, a descentralização não está sendo sacrificada pela segurança ou escalabilidade, levando-as a continuarem a operar independente de se uma plataforma inteira cair. Se a Amazon Web Services ou a Infura cair, aplicativos fortemente centrados em dados podem sofrer, mas muitas destas outras blockchains continuarão a operar, graças às operações continuadas de validadores independentes.
E fica a pergunta, vale a pena mintar artes boas em uma blockchain ruim? No final, a resposta está nas suas mãos. Esta é apenas uma face do argumento, e vendo o valor dado à função de NFTs como tecnologia de titularidade digital, eu acho que é desaconselhável comprar NFTs em qualquer blockchain que sofre para permanecer estável.
Este texto não é recomendação financeira ou fiscal. Este boletim informativo é estritamente educacional e não é um conselho de investimento ou uma solicitação para comprar ou vender quaisquer ativos ou para tomar quaisquer decisões financeiras. Este boletim informativo não é um conselho fiscal. Fale com seu contador. Faça sua própria pesquisa.
Parêntesis. Ocasionalmente, podemos adicionar links para produtos que usamos neste boletim informativo. Podemos receber comissão se você fizer uma compra através de um desses links. Sempre iremos divulgar quando for o caso.
📩 Se você tem interesse em divulgar um produto, serviço ou protocolo no Bankless Brasil, mande um email para: contato@banklessbr.com
Post Original: Dolce&Gabbana, Sorare, and the Value of Art on Unreliable Blockchains | Decentralized Arts
Algumas informações podem ter sido retiradas do texto original por conter conteúdo ultrapassado.
Alguns termos podem ter sido alterados para fazer mais sentido no contexto da língua portuguesa e/ou facilitar o entendimento.