Uma Carta de Amor para as DAOs | DAO Talks
Aquela paixão inicial uma hora acaba, mas em relacionamentos duradouros o amor só aumenta.
Prezada Nação Bankless,
“GM e bem-vindos à vida DAO!”
Às vezes, trabalhar em DAOs pode ser um trabalho duro.
De muitas maneiras, contribuir em tempo integral com DAOs pode ser muito parecido com se apaixonar. No começo tudo é mágico, mas chega um momento em que aquele fogo se acaba e os desafios se tornam aparentes. Logo você percebe que, para construir uma relação duradoura, é preciso estar disposto a trabalhar de forma sustentável.
Eventualmente, a paixão incandescente deve se tornar apenas uma pequena brasa que queima de forma consistente, para que o calor não se acabe por completo.
Essa semana, Hiro Kennelly compartilha sua história e experiência de cair na toca do coelho.
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Uma Carta de Amor para as DAOs
Por Hiro Kennelly
Tradução, revisão e formatação: Guilda de Escrita da Bankless BR DAO (bettercallvictor, Danko8383, brsoares)
Eu me apaixonei por vocês forte e rapidamente, DAOs.
Nunca considerei ter um caso extraconjugal, mas imagino que o começo seja mais ou menos assim: você é transplantado para um espaço atemporal onde sente uma energia de alta potência, uma abertura apaixonada do universo e uma ampliação do que você pensava ser possível, assim como uma paisagem de oportunidades ilimitadas para novidade, exploração e conexão. Você está firmemente situado no presente e inclinado para o futuro. Tudo o que veio antes é nebuloso e lentamente desaparece no passado.
Eu amo vocês, DAOs, mas precisamos conversar.
Vocês são tão especiais para mim e, neste momento da história, não quero estar em nenhum outro lugar. No entanto, temos que ser “poliamorosos”, porque enquanto quero passar muito tempo com vocês, também sinto falta da minha outra vida.
E, francamente, DAOs, vocês precisam crescer, amadurecer. Gosto de dizer que vocês são a oportunidade de dez vidas e, embora isso seja verdade, vocês têm alguns problemas para resolver antes de poder ganhar escala. Caso contrário, esses novos sistemas incríveis que construímos diariamente nas profundezas do Discord serão implantados sem ter atingido todo o seu potencial para mudanças sociais revolucionárias.
Construir novos mundos e formas de viver é um trabalho árduo e, se não começarmos a criticar o que estamos construindo e para onde estamos indo, não atingiremos todo o nosso potencial, a promessa do seu modelo revolucionário.
Embora vocês mudem a maneira como coordenamos os assuntos sociais e, portanto, a sociedade, precisamos realmente considerar que tipo de mundo estamos construindo e como é nossa visão para um mundo habilitado pela blockchain. Estamos construindo para cyberpunks ou cypherpunks, solarpunks ou lunarpunks, DAOpunks ou cryptopunks?
Também temos que entender o que vocês realmente são: como vocês são organizadas e governadas, como o capital é aplicado para financiar projetos e colaboradores, como incentivar adequadamente uma comunidade tokenizada para uma missão de modo produtivo e sustentável, e o que vocês precisam resolver antes de estarem prontas para escalar.
Percebi que vocês operam na confluência de contribuição e colaboração, coordenação e consenso, coesão e comunidade, tudo alimentado por capital, por meio de uma estrutura tokenizada de incentivos. Esses C's são os “Legos sociais” com os quais vocês são construídas, mas não entendemos realmente como essas peças se encaixam e, portanto, estamos construindo de maneiras desfocadas e aleatórias.
Estamos tentando construir coisas novas com ferramentas antigas. Isso está causando problemas de saúde mental em colaboradores e disfunção em DAOs, e as palavras que usamos para descrever nossos processos criam confusão e inação. Suas muitas partes móveis são um desafio para coordenar e governar. A retenção de colaboradores a longo prazo é uma preocupação emergente em todo o ecossistema e os DAOers em tempo integral estão cansados e começando a se esgotar.
Comigo, foi assim. E essa é a história.
Quando me Apaixonei
Meus primeiros três meses em DAOs foram de êxtase delirante — um estado alucinatório alimentado por esperança, sonhos e café. Entrei nos canais de voz, apertei ativar o som e rapidamente comecei a contribuir.
Logo de cara, e sem avisar ninguém, eu estava online de 16 a 18 horas por dia. Eu escrevia no porão de casa antes disso, era advogado, e, embora tenha sido bem-sucedido em muitas medidas, nunca senti um senso tão profundo de propósito e conexão.
A sensação de estar à beira de algo novo e desconhecido, talvez até um pouco proibido e perigoso, foi além de emocionante. Era tudo que eu queria fazer. Esse sentimento permeou todo o meu corpo — ainda permeia.
À medida que os dias se transformavam em semanas, meus ícones de servidores do Discord aumentavam verticalmente, enquanto eu clicava em links para novos servidores, novas pessoas, novas comunidades e novas oportunidades.
Minha lista mensagens privadas (DM) cresceu ainda mais rápido. Passei tanto tempo conversando com pessoas em DMs e no Discord quanto criando e enviando conteúdo ou construindo comunidades. Talvez mais. A intimidade via pseudônimo se tornou meu jeito de ser. Sem pensar muito, até criei uma conta no Twitter, coisa que jurei que nunca faria.
Não sou programador, mas agora sabia como era ser um construtor de coisas novas em novos lugares. DAOs são dispositivos de autodescoberta, ultrapassando os limites externos de nossos espaços internos e estendendo os limites externos do que é possível na fronteira da tecnologia, das pessoas e da imaginação. É tudo o que eu queria, mas não sabia que precisava.
Eu não aprendi apenas como trabalhar em uma DAO, mas como criar uma DAO: como construir um Discord, como coordenar novas formas de consenso, como unir e incentivar novas comunidades, como criar e enviar conteúdo.
Após três meses disso, eu fazia parte da equipe principal de duas DAOs, desempenhava várias funções e responsabilidades em outra, dava consultoria para desenvolvimento de comunidades e era rotineiramente solicitado a ingressar e construir em novos locais, incluindo empresas da Web3 fundadas por capital privado. Eu era uma história de sucesso para DAOs em tempo integral. Até que não fui mais, pelo menos naquilo que importa.
Voltando para Casa
Sou casado e tenho filhos pequenos. Nós estudamos em casa (homeschooling) e não trabalhamos fora daqui desde antes da pandemia. Essa é uma maneira resumida de dizer que estamos todos em casa, o tempo todo, e nós trabalhamos para manter tudo funcionando em um bom ritmo. E tudo correu muito bem, até não funcionar mais.
Ao me apaixonar profundamente por DAOs e pelas pessoas dentro delas, abandonei quase inteiramente a minha família, incluindo minha esposa e um filho de três semanas. A atração por esse espaço era tão forte, que eu nem percebi que fui embora, mas com certeza eles perceberam. Minha vida doméstica deu uma guinada lenta, mas constante, para pior, porém eu estava muito envolvido para perceber.
Quer dizer, eu sabia que as coisas estavam ruins:
“Alguém mais sente que está traindo seu parceiro quando se envolve com a Web3?”
Mas nem tive tempo de considerar as consequências do rosto cada vez mais irritado e suplicante da minha esposa, ou o significado dos puxões gentis e não tão gentis dos meus filhos. Acordei cedo, fui dormir tarde e não parei. Até que chegou o Natal.
Meus filhos exigiram que eu não trabalhasse no Natal. E eu não. Eu estava miserável. O Natal foi a primeira vez que parei de me mudar. O movimento não é apenas físico no fim das contas. Depois de três meses de 16 horas por dia, eu estava meio agitado, distante, mal-humorado, triste e desanimado.
Mesmo antes de ter filhos, o Natal era, de longe, meu feriado favorito. O Natal nos permite reviver a animação suspensa da infância e, pelo menos depois dos filhos, ajuda-nos a fortalecer os laços familiares, vivendo em um espaço mágico partilhado.
Porém, no último Natal eu estava lutando para estar presente e sentindo um forte desejo de dar um “oi” para meus amigos no Discord. Eu fui íntimo desses outros por três meses e quase esqueci o que era ser íntimo em casa. Deixei minha esposa com quatro filhos e fui morar no metaverso.
Apesar do calor das fogueiras da família, da alegria absoluta das crianças felizes flutuando através do aroma de pinho em nossa sala de estar, do zumbido suave e quente da felicidade do feriado, eu queria estar em uma mesa com um computador.
E foi aí que eu tive certeza de que algo não estava certo.
Comecei a pensar aonde tinha chegado em três curtos meses e percebi que minha vida estava desequilibrada e instável. Eu entendi que a criatividade que me permitiu prosperar estava secando, que eu não estava ansioso para entrar no Discord tanto quanto antes, que eu estava emocional e espiritualmente cansado, que o que eu estava fazendo era insustentável.
Eu estava com Síndrome de Burnout. Eu ainda amava todo o trabalho e todas as pessoas, mas percebi que o ritmo não era sustentável para uma produção de alto nível, para um trabalho criativo e atencioso.
Reduzindo, mas Fortalecendo
Após passar alguns meses profundamente imersos, obcecado, na verdade, com DAOs, era claramente a hora de construir algo em casa. Agora estou encontrando um melhor equilíbrio entre a vida DAO e a vida familiar, a criatividade está retornando, a cadência e o batimento cardíaco rítmico de um lar feliz, está se fortalecendo com mais firmeza.
Pergunte à minha esposa ou filhos e eles dirão que o equilíbrio ainda não é bom, mas estou mais presente e feliz em casa. Em vez de 16 horas, são 10 a 12 horas nas teclas. Costumo digitar com uma mão enquanto seguro meu filho de seis meses na outra. E este parece ser um bom ritmo para agora.
Não é o ideal, pois não há muito tempo para relaxar com um álbum de jazz ou um novo livro. Ainda não voltei à ioga, à meditação ou ao diário, mas há tempo para jogar xadrez com meu filho, correr pelo quintal com as crianças e sair para pegar uma praia.
À medida que melhoro em dizer "não" e estabelecer limites, pretendo atingir um ritmo sustentável, que permita uma vida familiar construída com atenção amorosa, mantendo a produtividade e a criatividade nas DAOs.
Conversei com muitas pessoas sobre como é a vida DAO em tempo integral, e não há melhor maneira de aproveitar o período que você está trabalhando. Mas lembre-se de que você tem uma vida fora das DAOs. E você precisa disso também.
Eu ainda as amo muito, DAOs, e pretendo passar o resto da minha vida crescendo com vocês. Mas, por enquanto, vou me concentrar mais nas DAOs que chamo de lar, em vez de pensar em outros destinos.
Ainda vou bisbilhotar por aí, mas não tenho tempo para divagar tanto e me perder pelo metaverso. E tudo bem. O lugar onde acampei é rico e farto, então vou me acomodar por aqui mesmo quando precisar descansar nessa minha outra vida.
Minha esposa acabou de criar um grupo no Facebook para artistas que fazem parte de sua rede de ex-alunos. Eles estão compartilhando ideias e aprendendo uns sobre os outros, ajudando a melhorar o trabalho uns dos outros por uma taxa simbólica e falando sobre como colaborar e usar suas redes para ajudar a apoiar o trabalho e o esforço coletivo. E eles estão se perguntando como ser pagos de maneira mais justa e sustentável. Sempre que ela me diz o que está fazendo, eu fico tipo, 'wenDAO' (quandoDAO)?
Ela revira os olhos suavemente, mas também me dá um pequeno sorriso de canto.
Eu sei que ela eventualmente me pedirá para ajudá-la a construir uma DAO e, até lá, continuarei aprendendo e crescendo com vocês. Ainda estamos tentando descobrir como trabalhar em DAOs, mas enquanto continuarmos nos preocupando não apenas com o que estamos fazendo, mas como estamos fazendo, tenho certeza de que o panorama das DAOs ficará cada vez melhor.
Mão na Massa:
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Post Original: A Love Letter to DAOs
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Danko, obrigada! Texto ótimo, me identifiquei, por conta da paixão, mas pude atestar que não a deixei me dominar, vi um tanto de equilíbrio, mas o texto é um grande alerta, uma dose de gentileza com todos os DAOers. Parabéns pela escolha desse texto.
Vou compartilhar muito, ele faz todo sentido.
Que artigo incrível!