Precisamos de Menos FUD e Mais Freud
Estamos em uma era de ambiguidade estratégica — na qual cripto é, alternadamente, elogiada, ignorada ou criticada dependendo do dia e da agenda.
Prezada Nação Bankless,
No artigo de hoje, apresentamos a tradução do artigo We need less FUD and more Freud, de autoria de Oren Katz, originalmente publicado em The Defiant.
Precisamos de Menos FUD e Mais Freud
Nota: Este é um artigo de opinião. As opiniões expressas neste artigo são exclusivamente do autor e não refletem as visões e opiniões de The Defiant.
Oren Katz, COO da StarkWare, é tanto psicólogo clínico quanto pioneiro no mundo blockchain. Nesta série de colunas, ele vai colocar cripto no divã. Vai discutir tudo — de Freud e FUD a FOMO no trading — passando pela psicologia macro da autoimagem das criptomoedas até os detalhes das nossas vidas — como lidar com os altos e baixos emocionais quando o mercado não ajuda.
Sentindo o tranco? Acho que todos em cripto estão. Muitos de nós experimentaram emoções de uma década em apenas cinco meses. O que nos ajudará a atravessar a incerteza não serão mais previsões de preço em tweets — será a psicologia e a adoção da mentalidade correta. Todos nós precisamos de um pouco menos de FUD e um pouco mais de Freud.
Você acompanhou a movimentação do preço após a eleição de Trump, convencido de que havíamos atingido a Era de Ouro do ouro digital? E se lembra da empolgação sobre uma moeda de reserva cripto — o momento em que muitos acreditavam que finalmente “havíamos conseguido”? A movimentação dos preços desde então te deixou confuso e, às vezes, desanimado, e as tarifas te fizeram questionar se nossos valores realmente alinham-se com esta administração? Se você respondeu sim a qualquer uma dessas questões, ou se você lê as notícias em busca de pistas sobre se sua visão de mundo está em voga no West Wing hoje, você não está sozinho.
Respire. Como um herói de filme desviado pelo amor, nosso setor começou a ansiar por validação de maneiras desconhecidas. E após adotar expectativas impossivelmente altas dos homens e mulheres de terno, muitos de nós ficaram desorientados.
Fomos jogados para o lado — emocional e psicologicamente. E essa montanha-russa emocional? Merece mais do que apenas opiniões rápidas — ela exige uma reflexão mais profunda.
Você não ficará surpreso ao saber que, como psicólogo, vou falar sobre desenvolvimento. A psicologia frequentemente foca no desenvolvimento individual, mas muito do que ela diz pode ser extrapolado para grupos, neste caso, a comunidade cripto.
É previsível que mudanças repentinas em Washington, ou qualquer outro centro de poder, nos deixem processando uma mistura de emoções. Como muitas pessoas que navegam por relações complicadas com seus pais enquanto crescem, nunca definimos completamente nossa relação com o establishment.
Somos algo completamente novo? Uma espécie tecnológica evoluindo fora das estruturas de poder tradicionais? Ou somos uma contra-cultura, ainda definida em oposição ao sistema que estamos rejeitando?
Se for o último — se cripto é a antítese do que veio antes — então isso não é independência; é entrelaçamento.
O grande psicanalista Donald Winnicott afirmou, em sua famosa declaração, que "bebês não existem". Ele quis dizer que um bebê simplesmente não pode existir isoladamente — apenas em um relacionamento com um cuidador. A identidade nunca se forma no vácuo; ela se forma em contexto. A identidade das criptomoedas, quer queiramos ou não, também se moldou por meio de suas interações — com governos, órgãos reguladores, banqueiros e todas as instituições com as quais aparentemente não queríamos ter nada a ver.
Acho que o súbito quase abraço de Washington nos desequilibrou. Passamos anos tentando entender nossa identidade em oposição ao establishment, e de repente, sentimos uma aceitação total e completa. Nos aconchegamos como um bebê nos braços de um pai e acreditámos, por um breve momento, que o establishment estava prestes a realizar todos os nossos sonhos.
Mas, naquele momento, esquecemos que o Bitcoin — e, portanto, a blockchain — acaba de completar 16 anos, então, em termos humanos, agora somos adolescentes.
Erik Erikson, o psicólogo germano-americano mais conhecido por sua teoria do desenvolvimento psicossocial, descreveu a adolescência como um tempo de “confusão entre identidade e papel”, onde o principal desafio do adolescente é construir seu próprio sentido único de identidade, e encontrar o ambiente social onde possa pertencer e criar relacionamentos significativas com outras pessoas. É basicamente onde estamos agora. Fomos moldados em algum tipo de relação com o establishment — mas agora é o momento em que precisamos descobrir quem realmente queremos ser. Partes disso pode, desconfortavelmente, se assemelhar ao establishment — e outras serão diferentes. Como o adolescente, o desenvolvimento saudável significa nos definirmos tanto pelo que estamos construindo quanto pelo que estamos quebrando.
Freud acreditava que a adolescência frequentemente revivia conflitos psicológicos anteriores. Resolver esses conflitos é essencial para a saúde na vida adulta — e só após esse processo uma relação mais autônoma com os pais pode se tornar possível.
Para construir uma noção melhor de quem somos, não devemos parar de nos importar com o que Washington, ou qualquer outro centro de poder, pensa e faz — na verdade, podemos nos beneficiar de estar mais em contato com o mundo fora da nossa bolha. Mas não devemos basear toda a nossa percepção de nós mesmos no que o establishment faz, e não devemos interpretá-lo como mais do que o que ele é.
Estamos em uma era de ambiguidade estratégica — na qual cripto é, alternadamente, elogiada, ignorada ou criticada dependendo do dia e da agenda. Isso é política. Se esperamos consistência, estamos nos preparando para a frustração. Devemos aceitar a ambiguidade e as mensagens conflitantes, não ser excessivamente influenciados por elas, mas sim compreendê-las, e ajudar a usá-las para moldar melhor a nós mesmos e o mundo ao nosso redor.
Do ponto de vista histórico, o que surpreende não é que recebamos mensagens conflitantes do establishment — é que recebamos mensagens. Temos apenas 16 anos, e as potencias mundiais já estão nos levando a sério. Talvez já tenhamos atingido o momento do “se você não pode vencê-los, junte-se a eles.” Para um adolescente tentando construir sua própria identidade, isso pode ser tanto uma bênção quanto um perigo.
O principal é que possamos encarar o que está por vir com confiança, e estar seguros de quem estamos nos tornando, com uma dependência moderada da aprovação externa. O caminho à frente será impulsionado menos pelos sinais que recebemos, mas mais pelos sinais que enviamos, e ainda mais pelo que realmente fazemos. Vamos falar mais sobre isso — no divã cripto — na próxima vez.
Oren Katz é COO da StarkWare, uma empresa líder em escalabilidade de blockchain. Ele tem M.A. em Psicologia Clínica e B.Sc. em Ciência da Computação, Física e Psicologia. Ele trabalhou tanto em psicologia quanto em tecnologia, e tem 25 anos de experiência na indústria em funções de desenvolvimento de software e gestão de produtos.