O Bitcoin Corre Risco de Centralização?
Comunidade Cripto debate o grande apetite institucional por Bitcoin
Apesar da grande euforia e da escalada de preço que o lançamento dos ETFs de Bitcoin no mercado Estadunidense causou, muitas pessoas começaram a questionar, entre outras coisas, a concentração de moedas em posse de alguns poucos players, ainda mais que neste caso os players em questão são grandes empresas do mercado financeiro tradicional, “gente de Wall Street”, por assim dizer.
Se realmente uma grande consolidação acontecerá e quais os seus efeitos ainda é cedo para dizer, mas, de qualquer forma, é importante discutir o assunto.
Neste pequeno artigo vamos analisar duas formas de centralização que pairam sobre o Bitcoin, a concentração da oferta de moedas nas mãos de poucos e a concentração do poder de mineração entre poucas empresas, não esquecendo que de alguma forma esses dois meios de concentração se confundem.
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Centralização pela concentração da oferta de Bitcoin
Se um pequeno grupo de pessoas e/ou empresas passa a deter uma quantidade significativa da oferta circulante de BTC, este pequeno oligopólio poderia combinar preços e manipular o mercado, levando a prejuízos os demais investidores.
Por sorte, uma das características da Blockchain é justamente ser transparente, então o monitoramento pode ser feito por qualquer pessoa.
O site River fez uma divisão dos detentores de Bitcoin em sete grupos, que seriam: Satoshi Nakamoto, empresas de mineração, Bitcoins perdidos, detentores individuais, empresas, fundos/ETFs e Governos, além dos Bitcoin a ser minerados, conforme esta imagem:
Embora seja uma visualização didática e com informações recentes, alguns desses dados já estão desatualizados, devido ao dinamismo do mercado. Além disso, essa divisão por setores não identifica quem são os grandes holders de BTC e qual o percentual da oferta circulante que possuem.
Desta forma, resolvi fazer uma nova divisão numa tentativa de organizar os dados. Vamos então conhecer as grandes baleias.
Corretoras Cripto
Recentemente a corretora Binance divulgou sua prova de reserva, um documento que atesta a saúde financeira da empresa. Neste documento foi revelado que a corretora possui o total de 609.500 BTC, ou 3,10% da oferta circulante de BTC no momento em que este artigo é escrito, que é de 19.631.350 BTC.
A corretora estadunidense Coinbase também é outra grande detentora da principal criptomoeda do mercado. Reportagem recente do site Bitnoticias afirmou que a empresa possui o total de 978.577 BTC, o que equivale a 4,98% da oferta circulante.
Para acessarmos dados de outras corretoras, o site Bitcoin Treasuries é uma ótima fonte, pois ele informa os dados de carteiras conhecidas de algumas corretoras, como a Bitfinex, que possui 229.837 BTC (1,17%), a Bybit com 37.932 BTC (0,19%), a OKEx com 72.119 BTC (0,37%), a CoinCheck com 40.651 BTC (0,21%), a Xapo, que possui 38.931 (0,20%) e a BITMEX com 34.472 BTC (0,18%).
A falida corretora japonesa MTGox ainda possui em sua massa falida 141.686 BTC (0,72%).
Outra empresa cripto nativa que recentemente publicou o total de Bitcoin que possui foi a Tether, que informou ter uma reserva total de 66.465 BTC, ou 0,34% da oferta circulante.
No total, essas empresas do ecossistema cripto informam ter 2.250.170 BTC, ou 11,46% da oferta de Bitcoin disponível no mercado.
Empresas
Empresas do chamado mercado tradicional também compram Bitcoin, por diversos motivos. É certo que a narrativa de reserva de valor que a criptomoeda ostenta tem chamado a atenção de algumas empresas de capital aberto em bolsa de valores e de outras que não precisam divulgar suas informações publicamente.
A mais famosa empresa holder de Bitcoin é a MicroStrategy, que segundo o site saylortracker já possui 190.000 BTC (sim, criaram um site específico para rastrear a quantidade de BTC que a empresa possui). Esse total equivale 0,97% da oferta circulante de Bitcoin.
Outra famosa empresa a possuir Bitcoin é a Tesla, do polêmico Elon Musk. Segundo o Bitcoin Treasuries a empresa possui 9.710 BTC, ou 0,05% da oferta atual de Bitcoin.
A empresa RobinHood Markets detém 118.300 BTC (0,60%), e a Block One, empresa chinesa de investimento e software, dona da blockchain EOS, possui 164.000 BTC (0,83%).
Por fim, a Marathon Digital, empresa do ramo de mineração de Bitcoin, possui 15.741 BTC (0,08%).
Existem várias outras empresas que são detentoras de Bitcoin, mas como o objetivo aqui é identificar a baleias, as empresas citadas são as mais relevantes. O total de Bitcoin detidos por elas é de 497.751 BTC, ou 2,54% da oferta circulante.
ETFs / Fundos
Os ETFs (fundos com cotas negociadas em bolsa de valores) são a grande novidade desta lista, e o gatilho que despertou o interesse de realizar este estudo. ETFs que negociam BTC a vista já existiam em outros lugares do mundo, como no Brasil, mas só recentemente eles foram lançados no mercado estadunidense, o maior do mundo. Rapidamente as empresas gestoras dos ETF começaram a sugar a oferta de BTC do mercado, e a questão é até onde elas vão.
Os principais ETFs detentores de Bitcoin são:
Selecionando os 13 principais fundos ETFs chegamos na 4,1% da oferta de Bitcoin disponível no mercado no momento deste estudo.
Governos
Por incrível que pareça, governos também mantém Bitcoins em seus tesouros. Talvez eles mesmos não acreditem em suas moedas… A principal forma dos governos acumularem Bitcoin é através de apreensões, mas também tem governo que compra e minera. A lista dos maiores detentores estatais de Bitcoin é encabeçada pelos Estados Unidos, com 215.000 BTC (1,10%), seguido por China, com 190.000 BTC (0,97%), Reino Unido 61,000 BTC (0,31%), Alemanha 50.000 BTC (0,25%) e Ucrânia 46.351 BTC (0,24%).
A soma de todos os Bitcoin detidos pelos governos citados chega a 562.351 BTC, totalizando 2,86% da oferta circulante da criptomoeda.
Centralização do Poder de Mineração
A centralização na mineração do Bitcoin também é um processo recente e tem chamado a atenção da comunidade de criptomoedas. A mineração funciona hoje através de grandes pools, que nada mais são que grupos de mineradores que cooperam entre si agregando seus recursos de computação, aumentando seu poder de hash e consequentemente aumentando a chance de minerar um bloco e receber a recompensa, que é dividida entre os participantes.
Dois grandes pools têm dominado o poder de mineração do Bitcoin, a AntPool e a Foundry USA. No momento em que este artigo é escrito, elas foram responsáveis por minerar, respectivamente, 25,79% e 29,01% dos blocos nos últimos seis meses.
Essa concentração de poder traz a tona, por exemplo, a questão do controle que elas possam ter sobre o que entra na blockchain, visto que A Foundry USA já declarou que censura transações que provenham de endereços sancionados pelo OFAC (Office of Foreign Assets Control), órgão estatal de prevenção de crimes financeiros. E este é apenas um exemplo.
Para complicar, recentemente o portal CriptoFácil publicou uma matéria mostrando o alto endividamento que muitas empresas de mineração sofrem hoje. Essa situação pode levar a uma consolidação, onde as empresas mais capitalizadas compram as que estejam com dificuldades financeiras, aumentando assim a concentração do setor.
Por fim, uma única empresa, a gigante dos investimentos Black Rock, possui participação em quatro das cinco maiores empresas de mineração do mundo. São elas a Riot Platafoms, onde ela detém 6,14% de participação, a Marathon Digital Holdings, com 6,44% de participação, seguido das Cipher Mining e Terawulf, com 0,88% e 2,28% de participação, respectivamente.
Conclusão
As recentes compras massivas de Bitcon pelos estreantes fundos ETF, assim como os grandes investimentos em poder de mineração nos mostram a corrida de grandes players pelos BTC disponíveis no mercado, revelando a crescente percepção de valor que o mercado financeiro tradicional esta tendo em relação ao Bitcoin.
Este movimento pode levar a concentração cada vez maior de moedas em posse de grandes empresas, dando lhes poder de controlar a oferta do ativo a manipular o preço, ainda mais que o Bitcoin tem uma oferta escassa de moeda. O site Portal do Bitcoin já noticiou recentemente a falta de BTC no mercado OTC (Over the Counter).
A concentração de BTC mostrada no artigo poderia ser ainda pior, se para realizar o cálculo não levássemos em conta na composição da oferta os Bitcoin de Satoshi e os Bitcoin perdidos.
Apesar de este cenário de controle e manipulação ainda ser apenas uma ameaça, monitorar e divulgar é extremamente importante para garantir que a principal criptomoeda do mundo permaneça livre e incensurável, afinal ninguém quer ter que recorrer a Governos para regular o mercado e evitar a criação de oligopólios!
Fontes pesquisadas:
https://portaldobitcoin.uol.com.br/binance-revela-quantos-bitcoins-controla-atualmente/
https://river.com/learn/who-owns-the-most-bitcoin/
https://bitinfocharts.com/top-100-richest-bitcoin-addresses.html
https://www.blockchain.com/explorer/charts
https://bitcointreasuries.net/
https://mempool.space/pt/
https://seekingalpha.com/article/4667487-coming-reckoning-bitcoin-miners-sector-analysis
https://saylortracker.com/
https://bitnoticias.com.br/noticias/binance-e-coinbase-controlam-juntas-11-de-todo-o-bitcoin-e-ethereum-do-mundo/
https://bitnoticias.com.br/noticias/mais-de-1-000-000-btc-conheca-quem-sao-os-10-maiores-detentores-de-bitcoin-do-mundo/
https://www.criptofacil.com/mercado-otc-enfrenta-falta-de-liquidez-para-atender-demanda-por-bitcoin/
https://guiadobitcoin.com.br/noticias/entenda-o-que-sao-pools-de-mineracao-e-quais-sao-as-melhores/
https://bitnoticias.com.br/noticias/bitcoin-do-estado-governos-controlam-mais-de-500-mil-bitcoin/
https://exame.com/future-of-money/blackrock-investimentos-4-das-5-maiores-mineradoras-bitcoin/
https://bitnoticias.com.br/noticias/tether-compra-mais-bitcoin-e-agora-possui-us-28-bilhoes-em-btc/
https://br.beincrypto.com/microstrategy-pode-controlar-5-do-bitcoin-diz-analista/
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