Prezada Nação Bankless,
A BanklessBR, em parceria com a Criptomaníacos, trará um relatório consolidado, cuja versão completa está disponível no link, para que nosso assinante conheça um pouco mais desse universo cripto em uma linguagem fácil e compreensível para que vocês tomem suas próprias decisões de forma embasada.
Os relatórios da Criptomaníacos são produzidos pela Equipe de Research composta pelo Fabrício Santos, Lucas Nakata (Naks) e Jonas Emidio (Jow).
Nesta relatório consolidado serão apresentados alguns indicadores interessantes para analisar as NFTs na rede do Bitcoin, como o impacto dessas NFTs na rede, e também, como considerar o cenário externo em suas análises.
Vamos evoluir juntos?
Introdução
Um evento inesperado pegou toda a comunidade Bitcoin de surpresa com o surgimento do que tem sido chamado popularmente de “NFTs no Bitcoin”.
Em poucas semanas, builders e entusiastas de NFTs iniciaram um grande rali para criar coleções inteiras de JPEGs e movimentar um mercado antes restrito apenas às redes como Ethereum, Solana, Polygon, entre outras.
Para uma parte dos bitcoiners, esse é um ataque à rede mais descentralizada do mundo e que deve ser combatido. Para outros, essa é uma inovação que pode ajudar na sustentabilidade da rede que, futuramente, dependerá apenas das taxas de transações para se manter.
Fique com a gente até o final para entender todos os detalhes dessa nova função da rede.
Ordinals e as inscrições
Para entender melhor como funcionam os “NFTs” na rede Bitcoin, precisamos esclarecer o que são tokens fungíveis e não fungíveis.
Um NFT é um token não fungível, em simples termos, é um token com características raras e únicas. Diferente do BTC, que é um token fungível que pode ser substituído por outro igual e de mesmo valor.
Um BTC minerado em 2010 tem o mesmo valor de um BTC criado em 2023. Assim, como uma nota de 100 reais impressa em 2010 tem o mesmo valor de uma nota de 100 reais emitida este ano.
A fungibilidade do BTC é intrínseca à sua natureza como moeda digital. Sobre esse ponto, existem poucos argumentos contrários.
Porém, um conceito criado por Casey Rodarmor, os Ordinals, acrescentam uma narrativa de não fungibilidade ao BTC, tornando os satoshis, menor unidade de medida de um Bitcoin, verificáveis e rastreáveis.
Não é difícil entender. Nós te explicamos!
Um BTC possui 100 milhões de satoshis. O método criado por Rodarmor propõe um sistema para identificar e rastrear individualmente cada satoshi de um bloco.
Para entender melhor esse ponto, imagine uma piscina de bolinhas onde todas as bolinhas sejam pretas. Neste caso não há distinção entre elas.
Agora imagine que as bolinhas sejam substituídas por bolinhas coloridas. Cada bolinha em uma cor diferente da outra.
Dessa forma, eu não só consigo identificar cada bolinha, como também posso rastrear, o que seria impossível se todas fossem da mesma cor.
Resumindo, o Ordinals é uma forma de identificar, rastrear e atribuir características aos satoshis de um bloco.
Por exemplo, com Ordinals eu consigo dizer qual satoshi foi o primeiro de um bloco ou o último.
Com isso, um satoshi não só ganha aspectos de um token não fungível, com características únicas, como também passa a ser um endereço único dentro de um bloco.
E qual é a relação disso com os JPEGs?
É bem simples! Tendo um satoshi como endereço em um bloco, agora é preciso apenas depositar uma imagem, áudio, vídeo ou texto. Este processo é chamado de “inscrição”.
As inscrições são os registros de dados feitos no satoshi. Após a inscrição do dado, ele se torna imutável e pode ser transacionado dentro da blockchain.
Pela primeira vez na história do Bitcoin, podemos afirmar que temos dados brutos sendo adicionados de forma nativa na rede.
Não é à toa que a atenção de milhares de entusiastas dos NFTs foi atraída para o bitcoin no último mês, criando um hype que não se repete com frequência no ecossistema.
Foram semanas de grande movimentação de artistas, builders e colecionadores de NFT em busca de uma nova onda para surfar.
Se cabe a comparação, foi como se as ondas gigantes da praia de Nazaré, em Portugal, tivessem acabado de serem descobertas.
NFT no Bitcoin foi a temporada mais aguardada de todos os tempos por OGs e degens de toda a criptosfera.
O hype foi gigante.
Número de inscrições diárias e total na rede Bitcoin. Fonte: Dune.
O mercado de “NFT” no Bitcoin
O mês de fevereiro foi o pico do hype com a criação de diversas coleções.
Até o momento da elaboração deste relatório, o número de inscrições já passou de 440 mil. Em comparação com a rede Ethereum, o número de NFTs não é muito expressivo. A coleção Otherdeed for Otherside, sozinha, tem 100 mil NFTs.
Por outro lado, a velocidade com que surgiram essas coleções no Bitcoin é assustadora.
Coleções que nasceram na rede Ethereum também correram para disputar o espaço nos blocos da rede Bitcoin.
A famigerada coleção CryptoPunks ganhou várias versões na rede criada por Nakamoto. A Yuga Labs acabou de lançar uma coleção de arte generativa com grande sucesso, gerando 16,5 milhões de dólares.
Coleção de NFT chamada TwelveFold criada pela Yuga Labs na rede Bitcoin. Fonte: TwelveFold.
Segundo dados on-chain, quase 90% das inscrições foram usadas para vincular imagens, seguido de textos, vídeos e áudios.
O volume de coleções criadas na rede foi grande e repentino. Isso aconteceu antes mesmo que soluções como marketplaces para negociação dos NFTs tivessem sido criadas.
Agora, aos poucos, estão surgindo novas ferramentas como wallets para custódia e marketplace especializados em Ordinals.
As primeiras coleções estavam sendo negociadas em planilhas do Google Docs, onde os compradores e vendedores negociavam usando intermediários em troca de comissão para concluir as transações.
Planilha de lances para compra de Ordinal Punk no Google Docs. Fonte: Google Docs.
Algumas soluções foram utilizadas para facilitar a venda dos NFTs no marketplace OpenSea. Uma delas é usar o “Emblem Vault” que serve para “embrulhar” o NFT do Bitcoin para poder ser transacionado na rede Ethereum.
Alguns NFTs foram vendidos a preços inimagináveis, criando um fenômeno interessante onde 1 satoshi, lugar de hospedagem do JPEG, foi vendido por mais de 1 BTC.
De modo geral, existem alguns critérios para determinar o preço de um NFT nativo no Bitcoin. Alguns desses critérios são semelhantes aos JPEGs de outras redes, como: o criador, valor estético, valor histórico, utilidade, entre outros.
No Bitcoin, um critério bastante valorizado é o número de inscrição do NFT. Quanto menor for esse número, mais valorizado. Por isso, as primeiras coleções são as mais disputadas no mercado.
Como curiosidade, a primeira inscrição feita na rede foi a de uma caveira. A inscrição 0 tem uma estética muito semelhante às caveiras feitas para o dia dos mortos no México.
Primeira inscrição usando Ordinals na rede Bitcoin. Fonte: Ordinals.
De fato, a novidade mexeu com os ânimos de entusiastas dos NFTs, que aproveitaram o momento para ganhar muito dinheiro. Mas isso também levantou diversos questionamentos por parte dos maximalistas do Bitcoin, que interpretaram os NFTs como um ataque à rede.
Para entender melhor a questão, é importante observar quais foram os impactos dos Ordinals e das inscrições na rede Bitcoin. É o que veremos no próximo capítulo.
Impacto e consequências para a rede Bitcoin
As inscrições são uma nova tecnologia que vem aproveitando o espaço nos blocos de transação para inserir dados arbitrários, como imagens, arquivos de áudio, ou até mesmo softwares na parte de dados que não é utilizado dentro de uma transação, conforme falamos mais acima.
Ao analisarmos a projeção do tamanho e limites da Blockchain do Bitcoin, é possível determinar a escala de crescimento em relação a utilização dos blocos da rede. Em 2023, presenciamos o tamanho dos blocos de transação chegando em um pico de 2,32 MB. O maior tamanho já visto na rede.
Gráfico tamanho dos blocos na rede. Fonte: Glassnode.
Mas qual o problema de incluir isso nos blocos de transações, já que o espaço não estava sendo utilizado?
Ao analisarmos o nível de utilização da Mempool (A mempool é o espaço onde as transações aguardam para serem confirmadas pelos mineradores), as inscrições também tiveram um efeito drástico no congestionamento da rede.
O gráfico abaixo mostra dois níveis de estresse na rede:
Momento de pânico pós falência da FTX
Momento em que as inscrições entraram no mercado.
No primeiro momento, a rede foi inundada de transações de alta urgência com a falência da FTX e com taxas elevadas. Após o momento de pânico, o mercado se reajustou, bem como as taxas e a utilização de blocos.
No segundo momento de estresse, temos o começo das implementações nos blocos de transação. Existe uma clara diferença em relação ao primeiro período, onde um grande fluxo de transações decaiu rapidamente.
Para as inscrições, fica claro que a demanda pela rede continua aumentando de forma gradual e com um crescimento se mantendo bem acima da média do número de blocos na mempool.
Gráfico de congestionamento na Mempool. Fonte: Glassnode.
Outro ponto que devemos observar são as taxas cobradas. Uma vez que temos o aumento dos blocos, temos também o aumento das taxas de transações.
Durante o caos histórico que o mercado passou com a FTX, houveram momentos de grande emoção que resultaram em um aumento compreensível das taxas, como podemos ver no infográfico abaixo.
Se observarmos com atenção, veremos que os topos de cobrança de taxas correspondentes a fevereiro e março de 2023 (Inclusão das NFTs na rede) se mantiveram altos, o que significa que as taxas de transações se mantiveram em patamares elevados.
Gráfico das taxas na Mempool. Fonte: Glassnode.
Esse movimento crescente de NFTs na rede do Bitcoin vem gerando uma discussão sobre o real impacto da inclusão das inscrições em questões do uso dos blocos e do tamanho agregado da blockchain. Atualmente, esses novos dados estão preenchendo o espaço do bloco que foi subutilizado anteriormente, especialmente quando comparado aos últimos meses.
Conclusão
Após todos os levantamentos mostrados, fica claro que os NFTs serão elementos permanentes nas blockchains. No entanto, sua utilização na rede do Bitcoin pode gerar alguns efeitos indesejados, como o aumento da mempool e das taxas de transação.
Nesse sentido, uma abordagem mais eficaz seria trabalhar em soluções para aumentar a capacidade da rede, como a adoção das novas atualizações da Lightning Network, como o Protocolo Taro, que pode reduzir a carga na mempool e diminuir as taxas de transação.
É como se você contratasse um mensageiro que precisa entregar um comunicado o mais rápido possível, mas alguém colocasse pedras na mochila dele. Ele vai demorar mais tempo para chegar no destino e a corrida pode até mesmo ficar mais cara.
Todas essas novas implementações podem ser realizadas de uma forma muito mais benéfica e objetiva através de cadeias paralelas, as famosas soluções de segunda camada, que abrem a possibilidade de realizar transações e “mints” sem o risco de sobrecarregar a rede principal.
Será que vale a pena termos um uso inédito da rede, se essa utilização resulta em efeitos prejudiciais como rede congestionada, altas taxas e aumento desnecessário do tamanho da blockchain do BTC?
Em conclusão, com a saturação da rede, todas as transações da blockchain que não incluem as inscrições também estão sendo afetadas, tornando-as mais caras e mais pesadas. Esse problema de congestionamento pode permanecer até que a demanda dos Ordinals reduza ou até que a comunidade bitcoinheira adote novas propostas que melhorem a capacidade da rede.
Isso pode mudar com o tempo, caso o armazenamento dos arquivos seja feito fora da rede principal e deixando a camada base do Bitcoin cuidando apenas dos dados de transações da sua blockchain.
Além do relatório dos NFTs no Bitcoin, a Criptomaníacos oferece também uma série de relatórios gratuitos como da Staking no Ethereum, Criptos de Inteligência Artificial e muito mais! -> Link dos relatórios
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