Métricas de Tokens que Você Deveria Conhecer
Mais de uma dúzia de métricas para considerar ao tentar valorar um token de protocolo DeFi
Prezada nação Bankless,
Avaliar um protocolo costumava ser difícil. Ainda é para alguns ativos.
Para um ativo que não tem fluxo de caixa, como por exemplo o Bitcoin, é realmente difícil. Stock to flow, taxas de transação, volumes de transações ajustados -- não existe uma maneira única de avaliá-lo.
Felizmente, os protocolos de DeFi são diferentes -- eles têm fluxos de caixa. Isso permite que sejam aplicadas as mesmas métricas já testadas pelo tempo nas finanças tradicionais, para que seja possível comparar e contrastar os protocolos uns com os outros.
Hoje, Lucas Campbell se aprofunda em algumas das métricas que você deveria saber.
Todas essas podem servir como conferências de coragem para qualquer investimento próspero que você visa fazer. Existem inúmeros aspectos qualitativos que você deve considerar junto as métricas que serão abordadas abaixo. Investimentos são multi-dimensionais.
De qualquer forma… já avançamos bastante. Na última bull run, métricas de valuation assim ainda não existiam.
Aprenda essas métricas dos tokens, e você será capaz de fazer frente a oportunidade.
Métricas de avaliação de tokens que você deve conhecer
Já dissemos antes: o DeFi está ultrapassando as finanças tradicionais por milhares de anos. Estamos reaprendendo, reestruturando e reaplicando metodologias antigas a este novo paradigma.
E já aprendemos muito nestes últimos anos. Agora entendemos mais profundamente como funcionam protocolos, como eles agregam valor, e o importante: agora nós temos as ferramentas para analisá-los e descobrir novas (e velhas) métricas.
Dito isto, hoje vamos tirar um tempo para avaliar algumas métricas gerais e outras específicas que existem hoje; e alguns índices-chave a considerar quando se está estudando um novo protocolo.
Eis o que você deve ter em mente:
Métricas Gerais
1. Capitalização de Mercado vs. Valor Diluído Total (VDT)
Market Cap vs. Fully Diluted Valuation (FDV)
Entender a diferença entre a capitalização de mercado de um protocolo e seu valor diluído total (VDT) — a capitalização de mercado total do protocolo se todos os tokens estiverem em circulação — pode ser um grande benefício a quem procura tomar posições de longo prazo em um ativo.
Se tiver uma grande discrepância entre a capitalização de um protocolo e seu VDT, isso quer dizer que há uma quantia significante de tokens que ainda não entraram em circulação. Por isso, investidores devem reconhecer a possibilidade de pressão inflacionária para vender a medida que esses novos tokens entram no mercado.
Isso é verdade especialmente para protocolos recém-lançados, onde os tokens em circulação tendem a ser uma fração da quantia total. Lembra de quando o Curve lançou o CRV? Esse token tinha um valor de $15-20, e o VDT do protocolo era mais de $50 bilhões. Isso era maior que o Ethereum na época!
Reconhecer esta discrepância na época poderia ter te poupado bastante dinheiro, porque a avaliação naquela época era irracional. Com isso, o mercado se corrigiu e se virou para soluções mais razoáveis. Moral da história: saber a agenda de oferta do ativo e como isso se traduz às suas avaliações atuais pode ser muito útil ao tomar posições de longo prazo (especialmente para protocolos recém-lançados)!
2. Valor Total Alocado (VTA)
Total Value Locked (TVL) — vamos usar TVL pelo fato de ser o termo mais presente no ecossistema cripto
O Valor total alocado é uma das métricas mais conhecidas no DeFi. Ela representa a quantia total de ativos em posse de cada protocolo—alguns podem ver isto como os ativos sob gestão (ASG) de um protocolo. De forma geral, quanto mais valor estiver alocado em um protocolo, melhor.
Isso significa que as pessoas estão realmente dispostas a alocar seu capital no protocolo e confiam nele em certo grau, em retorno para qualquer utilidade que ele sirva (como ganhar juros, prover liquidez, ou servir como garantia).
Dito isto, é importante reconhecer que com a introdução do yield farming, esta métrica pode ficar mais branda com o TVL ‘incentivado’ e TVL ‘desincentivado’. Um protocolo com $1 bilhão em TVL desincentivado pode ser um indicativo melhor de demanda real pelo serviço do que um protocolo com $1 bilhão, e toda a liquidez inflada com altos retornos.
Um exemplo perfeito disso é o Uniswap vs. Sushiswap.
Ambos protocolos atualmente* carregam TVLs parecidos de $3.7B (Uniswap) e $3.4 (Sushiswap). A grande diferença é que nada do valor alocado no Uniswap é incentivado—é tudo orgânico. Mas a maioria da liquidez do Sushiswap é incentivada com retornos substanciais no token $SUSHI.
Não quer dizer que um é necessariamente melhor que o outro, mas algo que vale a pena observar. Por isso, quanto você estiver avaliando o TVL como métrica de valuation, verifique o quanto do valor é incentivado e quanto não é.
* Considerando a data de publicação original do artigo (04/03/2021)
3. Receita
Revenue
A receita de um protocolo equivale às taxas totais pagas aos agentes ofertantes. Para AMMs**, isto pode ser as taxas totais pagas aos provedores de liquidez; para protocolos de juros, isto pode ser a quantia total de juros paga pelos tomadores de empréstimos. É por isso que a receita é uma métrica tão importante—ela literalmente significa a quantidade que as pessoas têm vontade de pagar ao protocolo, em retorno pelo seu serviço (como, por exemplo, swaps de tokens erc20 disponíveis 24 horas por dia, todos os dias).
** Um Automated Market Maker (AMM) é um tipo de protocolo de corretoras descentralizadas (DEX) que utilizam uma fórmula matemática para definir preços de ativos. Ao invés de usar um livro de ordens como uma corretora tradicional, os ativos são avaliados de acordo com um algoritmo de precificação. Uniswap, Sushiswap e Curve são exemplos de AMMs
4. Lucros do Protocolo
Protocol Earnings
Enquanto a receita é a quantidade que os usuários têm vontade de pagar ao protocolo, que vai em sua maioria para os agentes de lado da oferta provendo o serviço subjacente, os proventos do protocolo é a quantidade de receita que é realmente agregada ao token. Esse é o resultado final de um protocolo—a margem de lucro.
Porém, bem como as startups recém-formados e empresas de growth não pagam dividendos aos seus acionistas, nem todo protocolo envia fluxos de caixa ao token (porque pode não ser um uso eficiente de capital naquele momento).
O Uniswap e o Sushiswap são exemplos que adoramos azucrinar. Mesmo sendo o líder claro em DeFi em termos de receita, nada do fluxo de caixa no Uniswap ainda é agregado aos titulares de tokens UNI ainda. Comparativamente, o Sushiswap dirige ~16% (0.05% da taxa de swap de 0.30%) da receita gerada por swaps a stakers de xSUSHI.
5. Preço sobre Vendas
Price to sales
O índice de Preço sobre Vendas (P/V) compara a capitalização de mercado de um protocolo com a sua receita. Esta métrica provavelmente é bem conhecida pelos leitores ávidos do Bankless. Nas finanças tradicionais, a relação P/V serve como métrica básica de como o mercado valoriza o ativo, em relação ao rendimento que gera e sua expectativa de crescimento futuro.
Essencialmente, a relação P/V significa que o mercado está disposto a pagar $X para cada $1 gerado em receitas. O interessante é que a relação P/V pode significar coisas diferentes no contexto de protocolos diferentes, como:
DEXs: O mercado está disposto a pagar $X por $1 em receitas provenientes taxas de negociação
Empréstimo: o mercado está disposto a pagar $X por $1 em juros pagos pelos tomadores de empréstimos
Retorno (yield): o mercado está disposto a pagar $X por $1 em retornos para provedores de liquidez (PL)
Ou seja, o P/V não é o melhor indicador para comparação entre todas as aplicações, pois sua análise varia de caso para caso. Porém, é uma relação útil ao se comparar protocolos parecidos!
6. Preço sobre Lucros (P/L)
Price to earnings
Com muitos protocolos DeFi nos seus primeiros estágios de crescimento, é comum não haver fluxos de caixa diretos para titulares do token—um paralelo com o mundo tradicional. Com isso em mente, conforme a indústria amadurece e mais protocolos distribuem dividendos para os titulares de seus tokens (tokenholders) em várias atividades, a relação preço sobre lucros irá se tornará ainda mais relevante.
Dito isto, há alguns protocolos em atividade hoje—como Maker, Sushiswap, Kyber e outros—que oferecem fluxos de caixa diretamente aos titulares dos seus tokens. Aqui estão alguns cálculos sobre relações P/L para protocolos aplicáveis baseados nos dados de receita do Token Terminal e lucro peculiares a cada protocolo.
7. Receita sobre valor alocado
Revenue to value locked
A relação entre taxas e valor alocado pode ser uma métrica interessante para entender a eficiência de um protocolo em gerar receita de taxas em cima do capital que possui. Para fins de referência, calculamos esta métrica dividindo as taxas anualizadas pelo valor alocado.
Assim como as relações acima, isso quer dizer literalmente “o protocolo é capaz de gerar $X por $1 alocado nele”.
Quanto mais próximo “x” estiver de 1, mais eficaz o protocolo será em ganhar taxas do capital subjacente e pode indicar um melhor investimento do que um protocolo semelhante. Como um exemplo, aqui estão os 5 maiores protocolos com valor alocado e suas respectivas relações, após combinar dados do Token Terminal e DeFi Pulse.
O Uniswap segue na liderança, pois o protocolo é capaz de faturar $0,35 para cada dólar de valor alocado -- bem eficiente, caso queira saber minha opinião.
Métricas Específicas de Avaliação para cada Setor
Métricas específicas são fundamentais para determinar se um protocolo está ou não sendo usado para os fins pretendidos.
Quanto de volume está sendo negociado na corretora descentralizada? Quanto está sendo emprestado do protocolo de empréstimo? Alguém está cunhando ativos sintéticos?
Isso é o que se deve perguntar ao pesquisar a viabilidade e o uso de cada protocolo. Algumas perguntas para manter em mente:
Corretoras descentralizadas (DEXs)
1. Volume de Negociação
Naturalmente, uma das métricas mais básicas para avaliar o sucesso de um protocolo de liquidez é o volume total que ele facilita. Mais volume significa mais fluxo de caixa para participantes do protocolo, incluindo provedores de liquidez e titulares de token (caso aplicável).
2. Relação entre Preço e Volume (P/Vol)
A relação entre Preço e Volume (P/Vol) é uma métrica especializada em DEXs, que tem características parecidas às da relação Preço/Vendas. A relação P/Vol é calculada ao dividir o Valor Diluído Total do protocolo pelo volume diário da corretora.
O raciocínio por trás desse índice é: em vez de avaliar esses protocolos de liquidez com base na quantidade de taxas que geram, o que pode se tornar mais sutil ao olhar para protocolos com diferentes taxas de aceitação, o índice P/Vol vai direto ao ponto e identifica como o mercado avalia o protocolo com base na quantidade de volume que a corretora facilita.
Empréstimos
3. Tomada de empréstimo líquido diário.
Para protocolos de juros como Compound, Aave, Cream, e outros, a dívida total pendente e outras taxas de utilidade indicam a demanda de empréstimos do protocolo.
Com protocolos de juros, isso é importante porque quanto maior a demanda de empréstimos, melhores serão as taxas para os depositantes, o que leva a maiores incentivos para adicionar mais liquidez aos depósitos, o que aumenta a capacidade do protocolo para tomada de empréstimos.
Ou seja, mais demanda de empréstimos significa taxas mais altas para os fornecedores, o que é uma peça crucial para atrair capital ao protocolo
Derivativos
4. Dívida Total Pendente/Derivativos
Dívida pendente, ou ativos sintéticos para protocolos derivativos como Synthetix e MakerDAO, é um dos principais motores por trás da receita e lucros do protocolo.
Quanto mais dívida pendente, mais capital disponível para o protocolo monetizar, e mais fluxos de caixa para distribuir a titulares dos tokens. Ou seja: dívida pendente é só um indicador de demanda pelos ativos sintéticos do protocolo (Dai pro Maker; Synths pro Synthetix; etc.).
Seguros
5. Cobertura Ativa
Coberturas ativas para protocolos de seguro como Nexus Mutual e Cover são o indicador fundamentalista mais importante para este setor.
De forma simples, ele mostra a demanda do mercado pelos “apólices de seguro” do protocolo. Quanto maior o valor da cobertura ativa, mais apólices de seguro são vendidas, o que significa que o protocolo está cobrando mais prêmios (que é receita). Dito isso, essa relação é muito direta com a Nexus Mutual, pois o token, NXM, tem seu preço determinado em uma curva de ligação conduzida pelo montante total de capital. Quanto mais coberturas ativas, mais prêmios ganhos pelo montante de capital, o que causa pressão crescente na curva de adesão da Nexus Mutual!
Conclusão
Atualmente, existem muitas maneiras de dissecar cada protocolo. Felizmente, a indústria evoluiu para um ecossistema diverso de protocolos que te permitem comparar e contrastar uns aos outros para ver como eles se comportam.
Dito isso, há muitos aspectos qualitativos que não são mostrados nos números — que são igualmente, se não mais importantes a serem considerados. Isso pode incluir o nível da equipe, novos produtos em desenvolvimento, e o mais importante: a narrativa.
Assim como nas finanças tradicionais, as métricas de avaliação fundamentalistas já não são mais usadas, em grande parte.
O investimento em cima do valor está obsoleto. Todo o mercado é movido pela narrativa agora. Os mercados não determinam preços de ativos com base em múltiplos de receita ou índices de preço/lucro — mas com base na narrativa da empresa (alguns chama isso de memes).
Isso definitivamente se aplica ao mercado de cripto também. Se os NFTs estão na moda agora, então os projetos de tokens NFT vão decolar. É simples assim—nem precisa de análise.
Porém, as métricas fundamentalistas de avaliação servem como uma boa verificação intuitiva, especialmente quando você está se aprofundando em protocolos parecidos. Se um projeto chega ao mercado já com um valor diluído total de $50B, ficando maior que a própria rede em que é construída em capitalização de mercado, então provavelmente não é um bom momento para investir. O mercado provavelmente está esticado demais.
Portanto, no final do dia, é importante reconhecer que o mercado cripto é jovem, ineficiente e sujeito a movimentos loucos e irracionais que não necessariamente se alinham com os fundamentos.
De qualquer forma, as métricas de avaliação fundamentalistas, como as descritas acima, servem como indicadores firmes para fornecer números concretos que apoiem sua tese de investimento.
Mão na massa
Faça a análise fundamentalista de seus protocolos favoritos com as métricas mencionadas acima
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Post Original: https://newsletter.banklesshq.com/p/token-metrics-you-should-know
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- Alguns termos podem ter sido alterados para fazer mais sentido no contexto da língua portuguesa e/ou facilitar o entendimento.
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Top demais, seria bom umas imerssões da bankless ensinando isso ai! eu li o texto mas vou precisar ler umas 4 vezes pra aprender xD