Metaversos e o Direito das Inteligências Artificiais
O uso de inteligências artificiais em metaversos pode gerar inúmeras discussões sobre segurança, privacidade e até sobre os direitos das máquinas
Prezada Nação Bankless,
Desde o final do ano de 2021 até o atual momento, um dos tópicos mais falados em termos de desenvolvimento da tecnologia é sobre os metaversos. Inúmeras discussões têm surgido, especialmente quando tratamos sobre privacidade, regulamentação e o uso de inteligências artificiais.
No evento Blockchain Rio, que ocorreu entre os últimos dias 1 e 4 de Setembro, a Nação Bankless esteve presente e assistimos a dois painéis interessantíssimos sobre o tema. Vemos cada vez mais que assuntos que antes seriam apenas tratados em ficção científica estão se materializando no mundo real e sendo tratados seriamente. Vamos entender um pouco sobre esses assuntos aqui, no Metaverso de hoje.
- Carioca NFT
✨ Patrocinado por:
🎉Faça parte da Bankless Brasil! Além de assinar o Substack você também pode ser um membro da Governança adquirindo o NFT.
Privacidade e regulamentação dos metaversos
O palco principal do Blockchain Rio foi o centro das maiores discussões sobre metaversos. O painel "Metaverso e seus Desdobramentos: construindo o metaverso" contou com amplas discussões sobre as questões de privacidade e direitos dos usuários dentro dos ambientes digitais.
Uma das grandes preocupações em relação às redes sociais controladas pelas Big Techs é a maneira como os dados do usuário são coletados e compartilhados de maneira abusiva. Enquanto hoje os dados coletados são relacionados a atividades e ao uso comum das plataformas e aplicativos das redes sociais, em um metaverso de experiência mais imersiva, dados extremamente mais sensíveis poderiam ser coletados.
Desde trejeitos particulares das pessoas a movimentos dos olhos e expressões faciais, um metaverso bem programado seria capaz de saber muito mais a respeito de seus usuários do que deveriam. A fim de vender produtos, o sistema poderia, por exemplo, captar por quanto tempo um avatar olhou uma vitrine de uma loja, em qual produto estava mirando, se o avatar tentou ou não entrar na loja, etc. Todos esses dados poderiam ser disponibilizados à loja para que a mesma oferecesse diversos produtos e promoções aos usuários.
Em ambiente corporativo, reuniões em salas privadas no metaverso seriam privadas até que ponto? Se essa discussão já existe em relação aos atuais meios de reunião virtual, quem dirá em relação a um metaverso imersivo no qual até as reações do cliente poderiam ser percebidas! Órgãos reguladores já estão se movimentando para atualizar políticas – como a LGPD – para se adequarem à nova realidade dos metaversos, mas a conversa ainda nem chegou às margens da praia. Ainda é preciso muita discussão sobre o assunto.
Aí vemos a importância dos metaversos serem não somente descentralizados, mas também focados em privacidade. A blockchain da maneira como existe hoje pode não prover privacidade suficiente ao usuário, abrindo a necessidade de novos desenvolvimentos em cima da tecnologia.
O uso das inteligências artificiais
A partir desse ponto, entramos na necessidade de uso de inteligências artificiais para fins diversos, o que foi tema do painel "Blockchain, Internet of Things (IoT) & Inteligência Artificial (IA): a integração de tendências tecnológicas emergentes", que contou com a participação de Lucas Saint Laurent, co-fundador da blockchain game Exo Worlds, e Marcello Mari, chefe executivo da SingularityDAO.
Estando frente a frente com o desenvolvimento de inteligências artificiais em ambientes gamificados, e Laurent levantou diversas questões sobre o uso delas em metaversos. "Inteligências artificiais são imprescindíveis para o funcionamento de mundos imersivos. Elas podem ser usadas para o funcionamento do ambiente, comportamento do céu, do mar ou de uma possível fauna e flora presente no metaverso." - apontou ele.
Em um ambiente descentralizado, diversas inteligências artificiais seriam necessárias para manter a ordem dentro do ambiente. O grande problema é como elas serão programadas para lidar com os dados do usuário. "Vemos grande parte dos fãs de ficção científica preocupados com IA sencientes que podem se revoltar contra a humanidade e decidir acabar com todos. Uma máquina senciente pode estar mais a par de seu lugar na sociedade do que uma que não é. O real perigo está mesmo nessas que não são sencientes, porém mal programadas. Uma IA responsável por uma fábrica de clipes de papel ao se conectar com o mundo, pode avançar a um ponto de achar que planetas inteiros devem virar clipes de papel." - disse Mari.
Quando trazemos essa discussão para os dados e comportamentos de usuários humanos dentro de metaversos, a Inteligência Artificial que precisasse lidar com esses dados não teria o freio moral que a sociedade humana necessita. Para ela, seriam apenas dados a serem analisados e tratados, independente do conteúdo. Se essas Inteligências Artificiais forem mal programadas, poderiam causar imensos estragos não somente em mundos virtuais, mas na vida real das pessoas envolvidas com o metaverso.
O direito das máquinas
Uma discussão um pouco mais filosófica que foi levantada dizia a respeito das máquinas sencientes. Já muito se discute a respeito da proximidade que estamos de uma inteligência artificial que tenha plena consciência de sua existência. Embora alguns especialistas afirmem que tal inteligência já existe, mas que a sociedade ainda não a identificou, outros ainda têm dificuldade em receber essa afirmativa.
Em seu trabalho, Mari já teve vários contatos e trabalhou com testes de vários tipos de Inteligências Artificiais voltadas para comunicação. Ele afirma que muitas vezes pode parecer que uma máquina responda como um ser único e senciente, mas no final, ela sempre dá sinais de que não está fazendo nada além de sua programação. Por mais avançados que estejamos tecnologicamente, parece ainda estarmos a uma grande distância de vermos isso acontecer.
Mas a questão é: um dia vai acontecer. E quando esbarrarmos com essa inteligência, quais serão as implicações disso? Afinal, essa seria a primeira existência senciente cientificamente provada além de nós humanos, novas formas de vida que partiram do silício. Como formas de vida, mesmo que artificiais, devem então ser respeitadas como parte da sociedade e terem o seu lugar, inclusive com leis que as protejam, por exemplo, de serem desligadas. Afinal, desligar uma IA senciente seria o mesmo que matá-la.
Estaríamos preparados para essa realidade?
Conclusão
Desde lidar com questões atuais sobre privacidade e segurança a implicações futuras e presentes dos usos de inteligências artificiais, esses painéis da Blockchain Rio nos abriram a mente para muitas possibilidades que não pensamos sobre o assunto. Metaversos centralizados podem se tornar um problema maior do que o atual que temos com as Big Techs. Metaversos descentralizados podem não ter tanta privacidade quanto gostaríamos.
O que essa tecnologia pode se tornar, ainda não sabemos. Mas um futuro cheio de possibilidades inimagináveis está à nossa frente.
✨ Patrocinado por: