Como funciona o Lens, a rede social da Web3
Por: Ludmila Lopes
Estamos vivendo a era das redes sociais. O que começou com troca de depoimentos e participar de comunidades no Orkut, hoje se expandiu para um ecossistema bem mais complexo. O Facebook quer saber no que você está pensando. O Twitter, o que está acontecendo. O Instagram quer saber o quê você está fazendo e o TikTok, bem… confesso que sou velha demais pra entender o que ele quer de mim. E isso é só o começo, a cada dia surgem novas redes e novas formas de compartilhar conteúdo.
Se para o usuário comum já é um desafio coordenar tanta socialização online, imagine para criadores de conteúdo e empresas de marketing digital. Para cada rede precisamos configurar um perfil, uma foto, uma descrição. Para maximizar a eficiência é necessário aplicar técnicas de reaproveitamento de conteúdo: o tweet, vira imagem no Instagram, cortes de vídeos do YouTube, viram Reels, melhores momentos, viram Shorts, TikTok. E por aí vai.
Porém, se você parar pra pensar, o framework de toda rede social é fundamentalmente o:
Configurar um perfil;
Postar conteúdo;
Seguir outros perfis;
Reagir ao conteúdo dos outros.
Ou seja, a funcionalidade básica e os dados transitados são os mesmos em cada rede social, o que muda é a experiência do usuário, e a forma de exibição do conteúdo. Uma plataforma foca em imagens, outra em textos curtos, outra em vídeos, etc. Algumas têm certas políticas de restrição de conteúdo, outras são mais livres. Mas TODAS detém a propriedade sobre o conteúdo publicado.
Agora, imagina um protocolo que permita o reaproveitamento de conteúdo de forma automática e melhor, o conteúdo e os dados são nossos. Ficam armazenados na blockchain e só o criador do conteúdo pode alterar. Essa é a proposta do protocolo Lens.
O que é o protocolo Lens?
Lens, é um protocolo de grafo social descentralizado, desenvolvido pelo mesmo time responsável pelo Aave. Grafo social, termo popularizado lá em 2007, é uma estrutura matemática que gera um diagrama de conexões e representam funcionamento de redes sociais, mostrando a rede de relacionamento entre pessoas e perfis.
Representação de um grafo social. Cada pessoa é um nó, conectados por interações de compartilhamento e "amizades"
O Lens vem com todas as funcionalidades básicas para uma rede social: configuração de um perfil, criação e compartilhamento de conteúdo. Fica tudo gravado na rede Polygon em formato NFT. A escolha de como esse conteúdo é exibido fica a cargo dos desenvolvedores de cada site ou aplicativo, ou seja, todos eles consomem a mesma base de dados, o protocolo Lens!
Quer ver como funciona na prática? Testei várias coisas no Lens e fui documentando para te contar, vamos lá.
Criando um perfil no Lens
Pra criar um perfil no Lens, é preciso que algum membro do time principal autorize o seu endereço na Polygon. Se você assinou a carta aberta no início de 2022, seu endereço já está autorizado. Senão, tem algumas opções:
Entrar no Discord do projeto e pedir autorização com alguém do time;
Mandar uma mensagem pro perfil do Lens no Twitter;
Comprar um perfil em um marketplace de NFT.
⚠️ Obs.: tenha em mente que o perfil comercializado no marketplace já vem com o nome de usuário definido, e não é possível mudar depois. Assim, se for comprar um perfil, escolha o nome com carinho.
Quando o endereço da sua carteira estiver, finalmente, autorizado, é só fazer assim:
Acesse o site oficial do Lens;
Clique em “Claim Handle”. Confira que está em https://claim.lens.xyz/
Conecte a carteira que teve o endereço autorizado. Lembre-se de escolher a rede Polygon;
Confira e assine a mensagem requisitada;
Clique em “check your claimable handles”. Se o endereço foi autorizado, uma mensagem de sucesso aparecerá, e você vai poder escolher seu usuário (não dá pra mudar depois).
Pronto, as informações obrigatórias já estão definidas (endereço e nome de usuário). Agora, o site vai te convidar a já configurar outras informações do seu perfil, mas essas são informações que você pode mudar depois (ou mudar de um perfil que você tenha comprado em um marketplace).
É possível definir quem pode te seguir (qualquer um, somente perfis do Lens, ninguém ou assinantes);
Sign-less experience: você pode autorizar o protocolo a assinar transações de ações simples como comentar, espelhar (retwittar) e atualizar o perfil. É possível remover essa permissão depois;
Foto de perfil: é possível fazer o upload de uma imagem ou escolher um NFT da carteira. Eu tentei escolher algum dos meus NFTs mas não consegui, não sei se é culpa do formato das imagens ou falha da ferramenta, então subi a minha imagem do Finn mesmo. Dá pra mudar isso depois;
Nome e descrição: aqui eu só copiei o que já tinha no Twitter. Os campos aceitam emojis e marcação de @. Porém, vale conferir se o @ que você quer colocar existe no Lens (eu tive que remover as marcações do DeFi Pulse e Yearn depois);
Escolher 12 tópicos de interesse: assim como outras redes, para ajudar o algoritmo de recomendação, você pode escolher 12 interesses, sendo que o Lens tem algumas categorias específicas de cripto como DeFi e NFTs;
Pronto! No ecossistema Lens essa é a única vez em que é necessário configurar um perfil. Todas as diferentes redes sociais desenvolvidas no protocolo vão usar as informações do seu perfil Lens, inclusive os posts e interações.
Ao clicar no perfil, fui redirecionada para um site chamado lensfrens, onde consegui adicionar mais algumas informações e também ver recomendações de outros perfis pra seguir.
Algumas configurações interessantes:
O botão “definn.eth” leva pro OpenSea, onde consigo ver meu perfil como um NFT;
Clicando no link do polygon, abre o polygonscan (explorador de blocos da rede Polygon);
O link de “copiar” copia a url da página do meu perfil (https://www.lensfrens.xyz/definn.lens);
Clicando no id, á esquerda, vai pro mesmo link do NFT no OpenSea;
Ao clicar em “connect wallet” e assinar a mensagem, fica habilitada a possibilidade de edição do perfil., Assim, consegui configurar mais algumas informações como definir esse perfil como principal, colocar meu usuário do Twitter e adicionar uma imagem de capa.
Perfil configurado! Agora, vamos explorar algumas das redes que testei, e como funciona para criar e interagir com conteúdos.
Criando conteúdo no Lens
Ainda no processo de configuração do perfil, o site do Lens me deu a opção de criar meu "genesis post", ou seja, minha primeira postagem no protocolo. No meu caso, alguma coisa deu errado e minha postagem não foi executada, mas nada grave aí. Essa é a magia do Lens. Eu posso criar meu conteúdo a partir de qualquer um dos sites disponíveis.
Lenster, a primeira rede do Lens
O time do Lens já organizou diversos hackathons para incentivar o desenvolvimento de aplicações no protocolo. Foi de um desses desafios que surgiu o Lenster, cuja proposta é ser uma espécie de versão web3 do Twitter. Assim que terminei de configurar meu perfil apareceu um botão pro Lenster, então foi o primeiro que testei. Vou listar alguns pontos interessantes:
A tela e experiência de usuário é boa, bem parecida com o Twitter;
As postagens aceitam inserção de imagens e GIFs;
Todas as alterações no perfil feitas através do site do Lenster já são executadas direto no perfil Lens, ou seja, são “"replicadas”" pra todos os sites integrados ao protocolo;
A troca de DMs é criptografada de ponta a ponta;
Um probleba de UI que percebi é que ao clicar no ícone de “mirror” (análogo ao retweet) o repost é feito imediatamente, sem confirmação. E sSe clicardo várias vezes, o repost é feito repetidamente! Para desfazer, é preciso entrar no seu feed e mandar deletar aquele post;
Uma funcionalidade que achei bem interessante é poder ver o feed pelos olhos de outra pessoa. Com isso, dá pra roubar as referências de quem você admira.
Ao tornar o post colecionável, você pode definir o valor, definir como uma edição limitada e até configurarlimitar o tempo de resgate para 24 horas! Assim, você pode gerar um elemento de escassez nas suas campanhas do Lens;
Para incentivar o compartilhamento de conteúdo é possível definir uma taxa a ser paga para todos que fizerem o "mirror" (retweet), definida como um percentual em cima do total arrecadado por aquela postagem. Eu acredito que essa funcionalidade até possa trazer um aspecto perigoso de spam, porém, como agora são vários times desenvolvendo suas soluções de front-end para uma mesma rede, temos mais chances de ver melhores implementações de algoritmo de filtragem de feed;
Lenstube, o novo Youtube
Se o Lenster é o Twitter do Lens, Lenstube é o YouTube. Do ponto de vista de audiência, se você já é bem familiarizado com a interface do YouTube vai achar a do Lenstube bem tranquila. Porém, se for um criador de conteúdo, provavelmente vai sentir falta da infinidade de opções de edição e configuração de vídeos da plataforma da web2, mas nada que limite explorar o potencial do Lenstube.
Assim como no Lenster, no Lenstube podemos curtir, compartilhar conteúdo e seguir pessoas. Já tem seguidores no Lenster? Você verá esses mesmos seguidores te seguindo no Lenstube. E não é só isso: cada vídeo postado nele já é formatado adequadamente como texto e mídia para outras redes, como o Lenster. Para construção de comunidades isso é incrível!
Publicação feita originalmente no Lenstube
Eu não sou uma criadora de conteúdo de vídeos, mas vi alguns comentando que estão tendo mais facilidade de monetizar vídeos lá do que posts no Lenster e outros similares. Acho que se deve ao fato de plataformas como YouTube e a Twitch já terem treinado uma audiência que assina conteúdo pago e contribui para o criador. O potencial é enorme!
Orb, a experiência mobile no Lens
O Orb me pareceu uma versão melhorada do Lenster. A proposta é similar, porém com alguns aspectos interessantes. O Orb é um app, disponível pra IOS e Android (bem recente!) o que já se aproxima muitos mais da experiência de usuário oferecida pelas redes sociais tradicionais. Funciona muito bem e permite configuração de notificações.
Outra característica interessante do Orb são as comunidades (alô fãs do Orkut!) baseadas em NFT. É possível criar uma comunidade em torno de uma coleção já existente (exemplo: Bored Ape) ou criar um NFT exclusivo para essa comunidade. O NFT pode até ser algum post do próprio Lens. São muitas formas interessantes e com baixa fricção de monetizar conteúdo de forma justa e crescer uma comunidade.
Desenvolvendo para o Lens
Um aspecto que me faz apostar no crescimento da plataforma é a sua modularidade. Além da flexibilidade de cada time poder propor e desenvolver um front-end que consuma a mesma base de dados, o próprio protocolo funciona em módulos.
Os 3 tipos de módulos são:
Seguir: esses módulos são vinculados a um perfil, e sua lógica é executada quando um novo usuário segue o perfil;
Colecionar: módulos vinculados a uma publicação, cuja lógica é executada quando alguém "coleta" a mesma;
Compartilhar: esses são módulos também vinculados a uma publicação, mas que são executados quando alguém comenta ou compartilha o post.
E é por isso que a interação entre as diversas redes é tão eficaz: o protocolo já é preparado para expansão. O time desenvolveu uma API em GraphQL, e existem diversos tutoriais pra auxiliar quem quer contribuir com o protocolo.
Precisa de uma motivação extra? Você pode aplicar para receber um incentivo financeiro! Acesse todas as informações sobre o programa de grants do Lens aqui.
O futuro das redes sociais decentralizadas
Já são mais de 10 redes diferentes desenvolvidas no protocolo, e sinto que ainda está no início. Cada vez mais, a comunidade cripto sofre com banimentos e restrições de produção de conteúdo em diversas redes sociais, e cada vez que isso acontece uma nova onda de criadores migra para plataformas descentralizadas.
O Mirror, irmão Web3 do Medium, já mostrou a mais tempo que essa demanda existe. O Unlock Protocol permitiu que projetos e DAOs monetizem seus conteúdos através de assinatura, ou NFTs, mas no Lens essa funcionalidade é nativa. Veremos uma nova era do que chamam de conteúdo "token gated" (desbloqueado através de um token ou NFT) para fazer a assinatura de conteúdo um modelo mais justo, tanto para o criador quanto para o consumidor.
Vários desafios ainda precisam ser superados para adoção em massa, mas as portas estão abertas para todos contribuírem. Enquanto a guerra das fintechs disputa o controle do nosso conteúdo e atenção, a Web3 vem com mais uma solução para tomarmos o controle dos nossos dados.
Se for explorar o Lens, te convido a me seguir! Vou continuar fazendo experimentos por lá e compartilhando com vocês. Siga a BanklessBR também para seguir na jornada!
Aqui mais insights sobre a Web3, mais alguns perfis bacanas:
Esse conteúdo não foi patrocinado pelo Lens nem recebeu nenhum tipo de incentivo. Minhas impressões foram totalmente baseadas em minha experiência com o protocolo. Sempre tenha muito cuidado ao assinar transações, confira se você está no site correto!
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