Ethereum Pós Merge: Eficiência ou Censura?
Prezada Nação Bankless,
Passamos quase 2 meses do lançamento do Merge na rede Ethereum, o que acreditamos ser um dos maiores acontecimentos cripto dos últimos anos. No relatório de hoje, vamos explorar bastante como a rede do Ethereum se encontra no Pós-merge. Além disso, a Guilda de Jurídico da Bankless Brasil verificará os aspectos legais das normas impostas pela OFAC e como a rede vem aderindo essas normas e censurando os blocos provenientes da Tornado Cash.
Lucas Nakata, membro Bankless BR DAO e Trader com quase 5 anos de experiência em diferentes mercados como Criptomoedas, Forex e Tradicional escreveu esse artigo com bases sólidas, demonstrando prós e contras de projetos cripto, uma vez que saber olhar os fundamentos dos criptoativos evita qualquer tentativa scam, patrocíonio de shitcoins e viéses sobre criptomoedas.
Neste artigo serão apresentados alguns indicadores interessantes para leitura de ecossistemas criptos, como enxergar o fluxo de valores dentro de blockchains públicas e também como considerar o cenário externo em suas análises.
Ethereum (ETH): Preço e Movimentação
O mês de outubro parecia estar em uma eterna consolidação junto com grande parte do mercado de criptomoedas, porém no final do mês tivemos um movimento de alta de 26%. Esse movimento foi desencadeado por uma série de liquidações de operações short no valor de quase U$ 808M, elevando o ETH para a zona de $1500.
*Operações short são operações que apostam na queda do preço do ativo*
Ademais, a recente movimentação do Ethereum fez com que o ativo começasse a entrar em território sobrecomprado; tanto no gráfico diário quanto no gráfico semanal.
*Zonas sobrecompradas são zonas que um ativo passou por um movimento de valorização intenso apresentando possíveis área de oportunidades realização de lucro*
Assim, vemos um crescente otimismo com a atual movimentação, o que poderia levar a segunda maior das criptomoedas para patamares mais elevados. Se tivermos o aumento desse otimismo, a criptomoeda da Ethereum poderá subir e chegar na próxima região de resistência, que varia na área dos U$1760 - U$ 2000.
“Comprar no Boato e Vender no Fato”
O famoso ditado dos operadores de mercado se prova mais uma vez. De fato, o preço do ETH sofreu após a divulgação do Merge, da recente máxima de $1777 para a mínima de $1161, uma queda de mais de 35%. O mercado devolveu todos os ganhos feitos desde o meio de Julho, essa queda de preço é resultado de diversos fatores. Sendo um dos poucos ativos que tiveram um bom desempenho nos últimos meses, não é surpreendente que os lucros tenham sido realizados.
Indicador on-chain: Open Interest
Um modo claro de verificarmos o interesse da rede na Ethereum e, por consequência, o número das posições abertas é utilizar o indicador On-chain Open Interest. Como ele funciona? À medida que o Open Interest (linha azul) aumenta, o indicador mostra que mais liquidez, volatilidade e atenção estão entrando no ativo em questão. Ou seja, se tivermos uma tendência crescente no indicador, isso poderia apoiar a tendência de preços. Porém, se tivermos o inverso, isso indicaria que os investidores estão fechando posições no mercado futuro. Nas últimas semanas, parece ter ocorrido um aumento na alavancagem no mercado futuro, ao invés de uma diminuição, o que sugere posições de risco sendo abertas.
O Fim da Era da Prova de Trabalho
Após a implementação da nova prova de consenso, eO o fim da era do Proof of Work no Ethereum, foi marcado por um declínio imediato da dificuldade de mineração para zero. Esse processo foi instantâneo. A receita dos mineradores foi destruída, deixando um oceano de plataformas de mineração GPU e ASIC à procura de uma nova utilidade.
A nova camada de consenso utiliza um conjunto de validadores que são estruturados em conjuntos de comitês e “construtores” de blocos para cada espaço. O validador recebe a função de produtor de blocos para cada espaço de 12 segundos. Entretanto, esses validadores podem estar inacessíveis, ou exercer uma força de controle nos blocos, o que resulta na perda de blocos ou na censura de blocos validados, como discutiremos no decorrer desse artigo.
Efetividade dos Valores dos Validadores da Rede Ethereum
Atualmente, a participação da rede é limitada (a) por validadores com 32 ETH. O atual saldo efetivo de ETH (em stake) está em 13.801M ETH, o que resulta em uma taxa de efetividade de 94,6%.
A maior parte dos ETH stakeados é hospedada por uma variedade de provedores de serviços de staking. Os 4 principais provedores de serviço são a Lido Finance, Coinbase, Kraken e Binance, que gerenciam uma participação total de 8,18M de ETH, que resulta em 56,08% da participação total rede. A Rocketpool, operador de nó de validação, permanece como um pequeno concorrente da Lido, representando 1,56% da participação total.
Valor Máxima Extraível (MEV) & Normas da OFAC
O valor máximo extraível (MEV) remete a receita que os construtores e validadores de blocos recebem pela criação ou reordenação de transações dentro de um bloco de transação. Diversos usuários do MEV conseguiram mudar questões internas que fizeram com que esse atributo se tornasse um caminho para exploração de usuários, centralização e censura.
Os Flashbots são uma equipe de pesquisa e desenvolvimento que trabalha para reduzir os efeitos negativos do MEV por meio do MEV-boost, um componente que oferece a funcionalidade de conectar aplicações de modo inteligente. Desse modo, permite que os validadores solicitem blocos de uma rede de construtores por meio de um intermediário chamado de Relay ou Retransmissores.
Segundo a EIP 1559 e o artigo da Research Paradigm, os validadores poderiam: 1- reordenar transações para fins de arbitragem ou liquidação, 2- excluir determinadas transações e 3- terceirizar a produção de blocos e maximizar sua receita, por exemplo, vendendo o espaço do bloco para outros validadores que já ordenaram, montaram o bloco com as transações de sua escolha e estão dispostos a pagar um preço maior pela produção de blocos.
Segundo o mevboost.org, site de monitoramento do MEV-boost, podemos ver que três empresas, Flashbots, BloXroute e Blocknative, compõem a maioria dos Relays do MEV-Boost. Até o momento, de todos os blocos mostrados pelo MEV-Boost que foram retransmitidos, 73,18% da participação dos blocos são provenientes de 7 empresas retransmissoras e cerca de 81,32% deles foram via a empresa Flashbots.
Importante comentarmos que logo após a OFAC (Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros do Tesouro dos EUA) colocar na lista negra o programa de código aberto, Tornado Cash, a empresa Flashbots anunciou que, conforme as sanções propostas, começaria a censurar transações por meio de seus Relays. Assim, todas as transações provenientes dos endereços da Tornado Cash não poderiam juntar suas transações nos blocos.
Segundo o Mevwatch.info, que mostra o monitoramento da censura na rede, desde a metade de setembro, 47% de todos os blocos que foram propostos na blockchain do Ethereum foram lançados pelo Relay da Flashbots com censura para os endereços da Tornado Cash. os últimos 7 dias, cerca de 72%!
Isso nos mostra um aspecto extremamente importante. A rede do Ethereum pode estar perdendo a neutralidade, uma vez que os Relays estão censurando transações. Abaixo, podemos identificar que dos últimos 100 blocos executados, 83 blocos censuraram os endereços da Tornado Cash e aplicaram as normas da OFAC.
Repercussão Jurídica das Normas da OFAC
A conclusão do Merge e a consequente transição para Proof-of-Stake (PoS) trouxe diversas implicações legais, além de muitas dúvidas em relação ao futuro da Ethereum. A primeira preocupação dá-se à aparente tendência de centralização na rede. Atualmente, existem sete relays ativos validando pelo menos um bloco na Ethereum: Flashbots, BloXroute Max Profit, BloXroute Ethical, BloXroute Regulated, Blocknative, Eden e Manifold, de acordo com dados do mevboost.org.
Dentre todos, o Flashbots conta com uma participação de 81,32%, tendo subido desde o Merge. Entretanto, há defensores do relay que apontam que o sistema é uma DAO, que estaria em transição para a descentralização. Porém, ainda não sabemos quando isso vai realmente acontecer. Além disso, a maioria dos blocos foi construída por dois endereços da Lido e Coinbase, levantando mais fortemente a questão anteriormente suscitada, justamente porque a Coinbase é uma entidade centralizada.
A segunda implicação se relaciona com censura e é, de certa forma, mais delicada. Exige voltarmos alguns meses no ano de 2022, m agosto, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos sancionou a Tornado Cash, um mixer de criptomoedas, por suposta lavagem de dinheiro. Juntamente, listou uma série de endereços associados ao protocolo que devem ser evitados. Foi a primeira vez que a OFAC sancionou um protocolo de software ao invés de uma pessoa física ou jurídica.
Vamos entender como se dão tais sanções. A OFAC administra sanções comerciais e econômicas a países e pessoas envolvidas em atividades que ameacem a segurança ou a estabilidade financeira dos EUA – como terrorismo, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro.
Ao isolar as pessoas sancionadas do sistema financeiro dos EUA, se torna muito difícil para elas fazerem negócios internacionais, especialmente enquanto transacionam em dólares. O impacto das sanções da OFAC é que qualquer pessoa ou carteira que interaja com a entidade/protocolo sancionado e os endereços Ethereum mencionados tenha responsabilidade nas esferas cível e criminal.
A web 3, como sabemos, segue os princípios de ser descentralizada, sem permissão e sem confiança. Contudo, muito embora ela apresente novas formas de coordenar atividades entre jurisdições de forma mais eficaz e justa, e de preservar a privacidade e a propriedade de ativos e dados, também traz consigo preocupações regulatórias, especialmente relacionadas à lavagem de dinheiro, proteção ao consumidor e estabilidade financeira. Isso aponta para o mercado a necessidade de produção de soluções preventivas e sancionadoras, prevenindo mau uso da tecnologia e aplicando penalidades aos autores de crimes cibernéticos.
Atualmente, para se enquadrar ao compliance submetido pela OFAC, os protocolos DeFi impedem que as contas que interagiram com os endereços bloqueados usem os aplicativos front-end dos protocolos por meio de ferramentas forenses e analíticas de blockchain. Contudo, isso é facilmente driblado por hackers utilizando call function para acessar diretamente o smart contract e continuar utilizando-os. Tal ocorrência só seria eliminada uma vez que os protocolos DeFi incorporem a função blacklist diretamente nos smart contracts, o que, por outro lado, introduz elementos de centralização a um protocolo permissionless, tornando-o inacessível para o usuário médio e reduzindo seus efeitos de rede.
A censura, de forma generalizada, pode reverberar de várias formas dentro do ecossistema. Primeiramente, pode atingir a inovação e a construção do ecossistema melhor, além de aumentar a dificuldade de organismos Web 3 em acessar serviços on/off ramp do sistema bancário fiduciário. Tais instituições financeiras, por adoção de uma cautela exagerada para se evitar responsabilidade civil e dever de reparação pela má concessão de crédito, podem excluir novas empresas/protocolos da web 3, enquanto potencialmente retiram os existentes da plataforma.
Em segundo lugar, há um aumento da pressão de entidades Web 3 a se enquadrarem a um modelo de pessoa jurídica já previsto no ordenamento jurídico. responsabilidade dos desenvolvedores pela facilitação de atividades ilícitas e criminosas no ecossistema pode vir à tona e a adoção de uma pessoa jurídica atrairia para esta a responsabilidade e não mais para seus funcionários.
Por fim, será que restará a nós, construtores desse universo, decidir quais são os sacrifícios que a descentralização sofrerá ou seremos forçados goela abaixo por quem sempre teve o poder? Até onde temos autonomia nessa construção?
Metodologia
🔎 O Bankless Monthly Report foi produzido utilizando dados On-chain do sites: Glassnode, IntotheBlock e Crypto Quant.
O seguintes artigos e relatórios foram utilizados para caráter informativo:
The Merge: Feat of Engineering, da Glassnode
What’s Going On With Ethereum’s MEV-Boost? e Censored Ethereum Blocks Hit the 51% Threshold Over the Past 24 Hours, da Coindesk
MEV and ME, da Paradigm.
🔎 Para escrevermos sobre as repercussões jurídicas, este relatório utilizou os seguintes artigos:
OFAC sanctions on a cryptocurrency protocol: What does that mean for Web3 World Economic Forum
Ethereum se aproxima ainda mais da censura total devido à conformidade com a OFAC
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