Datilografia, Cobol e Blockchain
Prezada nação Bankless,
Hoje vou falar um pouco sobre a evolução de algumas tecnologias e sua relação com a blockchain.
No título você já deve ter sacado que vou mencionar máquinas de escrever. Mas prometo que este é um artigo sobre criptomoedas e no fim, tudo fará sentido.
Falando nisso, você já usou alguma máquina de escrever?
Cada vez mais a resposta para essa pergunta será: não.
E o motivo é óbvio. Hoje temos diversos outros dispositivos que substituem uma máquina de escrever facilmente, inclusive o aparelho que você está usando para ler este artigo, seja um smartphone ou computador.
Como a tecnologia se enraíza em nosso cotidiano, essa evolução muitas vezes passa despercebida. E é isso que quero trazer à tona neste artigo. A importância de estarmos conscientes dessa evolução e como a blockchain faz parte dela.
Sem mais delongas, tenha uma boa leitura.
- TB
🙏 Patrocinador: Criptonomia — Autoridade em blockchain e tokenização de ativos. A blockchain te assegura, a Criptonomia te proporciona.
Datilografia, Cobol e Blockchain
Coluna do Tim Balabuch
A máquina de escrever foi inventada por volta de 1843 e em 1880 foi adotada no mercado corporativo. No Brasil ela foi bem difundida e teve todo um mercado desenvolvido aqui. Inclusive grandes bancos tinham em suas agências setores específicos para treinamento e manutenção dessas máquinas. Porém, empresas de máquinas de escrever tiveram seu declínio no início de 1990. O motivo? O computador.
100 Adelaide St E. 1989/1998, By Patrick Cummins
Algumas máquinas de escrever possuíam pequenos monitores e até mesmo memória, se aproximando do conceito de computador pessoal. A contribuição dessa antiga ferramenta e a base que ela criou para novas tecnologias é inegável. Mas logo se tornou algo arcaico devido às suas limitações quando comparada a um computador, que por sua vez abria todo um universo de possibilidades.
Vale lembrar que evoluir, melhorar e se adaptar não significa desmerecer a contribuição do que veio anteriormente. Você pode notar em diversos aspectos e diferentes indústrias que a mudança muitas vezes é encarada como uma afronta ao que é comum naquele momento.
Frases como "sempre fizemos assim" ou "está bom do jeito que está" mostram uma certa resistência às mudanças e você vai ouvi-las em diferentes contextos. Tente mudar algo simples no seu local de trabalho por exemplo e é quase certo que se deparará com esse tipo de situação.
Não foi diferente com a transição da datilografia para a digitação. Não vou me aprofundar em detalhes, mas por hora é só bom termos a noção de que os computadores nem sempre foram recebidos de braços abertos.
Tecnologia limitada
Os bancos, então, tiveram que se adaptar, aderiram aos computadores, fecharam setores de manutenção de máquinas de escrever e evoluíram, apesar da resistência.
Bom, se os bancos se adaptaram bem a essa mudança tão significativa, então é de se esperar que eles atualmente estejam munidos dos mais modernos recursos tecnológicos, certo?
Não é bem assim.
É bom termos em mente que essa resistência não está restrita somente ao passado. Hoje também temos em uso algumas tecnologias e ferramentas limitadas devido à dificuldade de mudar para algo mais adaptável e a própria resistência às mudanças.
Vou explicar o que quero dizer com isso, com um exemplo clássico, que são as linguagens de programação usadas por bancos. Essas, por sua vez, podem ser definidas como a língua que é usada para dar um conjunto de instruções para o computador.
Bancos podem até usar os computadores mais modernos, mas quando o assunto é a linguagem de programação usada por seus sistemas... bom, aí é outra história.
Uma dessas linguagens é o Cobol que foi criada em 1959. Só para termos uma noção do quanto essa linguagem ainda é usada, segundo a Reuters:
Mais de 95% dos caixas eletrônicos dependem de Cobol
80% das transações presenciais usam Cobol
43% dos sistemas usados por bancos são feitos com Cobol
Se comparada com linguagens atuais, Cobol é diferenciada e em vários aspectos também é limitada. Não vou entrar nos detalhes dos motivos, até porque linguagens de programação podem ser quase uma religião para parte da comunidade de desenvolvedores e não quero polemizar neste aspecto.
Porém, quero deixar a seguinte pergunta: por que uma linguagem de programação limitada e antiga ainda é utilizada por grandes bancos?
Vou dar três motivos rápidos para isso:
O primeiro é o ROI. Simplesmente não vale a pena do ponto de vista de investimento.
Segundo, a dificuldade de encontrar profissionais qualificados para fazer a portabilidade dos sistemas para uma nova plataforma.
Terceiro, os bancos não querem arriscar "quebrar" algo durante um possível processo de migração.
Os bancos possuem os sistemas contábeis mais complexos e antigos do mercado. No entanto, isso não está restrito somente aos bancos. Nos Estados Unidos o governo já tem dificuldade em encontrar profissionais para dar suporte a códigos com mais de 50 anos escritos em COBOL.
Um caso recente que ganhou mais notoriedade foi quando o governador de Nova Jersey veio a público para fazer um apelo a especialistas em COBOL para ajudar com um sistema antigo do Estado que estava em crise devido a diversos fatores, mas principalmente por causa da pandemia.
Deixe-me colocar isso de outra forma: parte do sistema financeiro e estatal atual é refém de uma tecnologia limitada e antiga.
Uma afronta
Talvez, neste ponto, você já deve ter sacado onde quero chegar. Pode ser compreensível não querer arriscar, modernizar o sistema bancário, migrando para uma outra linguagem de programação. Afinal, apesar de ser antiga e limitada, se mostrou confiável. A linguagem de programação COBOL, não os bancos.
Mas temos outra opção.
Você possivelmente já ouviu muito sobre como as criptomoedas estão descentralizando e devolvendo a posse e poder monetário ao indivíduo. Além disso, o movimento para libertar os indivíduos de sistemas centralizados também traz o benefício de acessibilizar uma tecnologia mais avançada e segura como a blockchain.
Atualmente grande parte das pessoas que têm acesso a serviços financeiros já são reféns de bancos, principalmente de bancos centrais. Graças às criptomoedas podemos nos desvencilhar deles e de suas tecnologias defasadas.
E é totalmente natural que haja resistência não somente de algumas pessoas, mas também ao nível institucional. Já que estamos falando de uma ameaça para uma indústria dominante e extremamente poderosa.
Uma outra parcela da população mundial não possui acesso algum a serviços e produtos financeiros. Um dos motivos é o desinteresse dos bancos. Ponto que, pra mim, ressalta ainda mais a necessidade de serviços descentralizados, pois estes não se importam com seu status, poder aquisitivo ou cor da pele.
Em retrospecto, a migração de máquinas de escrever para computadores pode parecer óbvia. Na época, no entanto, não era e para muitos era até uma afronta.
Parece óbvio que nosso sistema bancário precisa se modernizar em diversos aspectos. Acredite, para muitos isso é uma afronta.
Nos próximos anos será óbvio também essa migração de bancos centralizados para soluções descentralizadas em blockchain. Para variar, para muitos isso também é uma afronta.
O que melhor se adapta às mudanças
Indo um pouco além nesse raciocínio, quero tocar em um ponto mais específico do universo das criptos. Você já deve estar sabendo dessa última atualização da Ethereum, o EIP-1559. Com essa atualização, vieram algumas críticas, principalmente pela grande mudança no sistema de taxação e também sobre o quanto a blockchain da Ethereum é mutável, vide a transição para Proof of Stake.
Já notamos que mudanças e resistência andam juntas. As mudanças e prefiro dizer a evolução da Ethereum não foge à regra.
Tenho minhas dúvidas sobre o quanto essa crítica é válida. Ter uma blockchain adaptável a novos cenários e com implementações de melhorias significativas me parecem características de uma tecnologia que não ficará defasada facilmente.
Ao passo que há outras blockchains mais rígidas e menos flexíveis não tão abertas a mudanças. Talvez seja melhor manter do jeito que está do que arriscar quebrar algo. De fato isso traz uma segurança semelhante aos bancos não querendo arriscar mexer no Cobol. Acredito que essas blockchains continuarão tendo seu espaço e cumprindo sua função, mas também estarão reféns de suas próprias limitações, assim como seus usuários.
Vale lembrar que evoluir, melhorar e se adaptar não significa desmerecer a contribuição do que veio anteriormente. Inclusive, obrigado Satoshi.
Empresas, setores e empregos relacionados a máquinas de escrever ficaram defasados com a chegada dos computadores. Mas nem todos, aqueles que se adaptaram, continuaram na ativa e fizeram parte da revolução.
Ethereum me chama atenção justamente por esse aspecto, a capacidade de se adaptar está no seu DNA desde seu início. Sua comunidade de desenvolvedores está constantemente em busca de melhorias e trabalhando no desenvolvimento de novos aplicativos descentralizados. Indo além de uma moeda digital, sendo todo um ecossistema financeiro.
“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças”.
Conclusão
Em um passado não tão distante, a datilografia era um requisito básico para se conseguir um bom emprego. Hoje, máquinas de escrever são no máximo artigos decorativos de ambiente com temática retrô, talvez haja alguém que use por pura nostalgia, tornando difícil imaginar o tamanho da indústria que já existiu por trás dessas máquinas.
Bancos centralizados e suas tecnologias limitadas ainda fazem parte do nosso presente. Espero que não seja idealizar demais pensar que um dia bancos atuais também estarão em uma estante de artigos decorativos.
A chegada dos computadores também trouxe resistência, mas essa não foi páreo para tamanha inovação.
Se você gostar desse artigo, considere ser um assinante do Bankless Brasil. Artigos exclusivos e um NFT customizado para os assinantes. Promoção especial até o final de 2021.
🙏 Agradecimentos ao nosso patrocinador
CRIPTONOMIA
A Criptonomia tem especialidade em beneficiar processos corporativos por meio da tecnologia blockchain e promover um novo patamar de transparência entre clientes e fornecedores, auditabilidade de processos e provas de registro também. A empresa avança com soluções abrangentes em tecnologia Blockchain para clientes e parceiros, contando com uma ampla gama de setores como o industrial, financeiro e organizações que trabalham com ativos e/ou informações sensíveis.
👉 Acesse o site da Criptonomia e confira as principais soluções.
Tem interesse em contribuir com o movimento Bankless no Brasil? Ficou com alguma dúvida depois de ler o artigo? Entre na nossa DAO, e junte-se a comunidade!
Leia nossos últimos artigos
Esse texto não é recomendação financeira ou fiscal. Este boletim informativo é estritamente educacional e não é um conselho de investimento ou uma solicitação para comprar ou vender quaisquer ativos ou para tomar quaisquer decisões financeiras. Este boletim informativo não é um conselho fiscal. Fale com seu contador. Faça sua própria pesquisa.
📩 Se você tem interesse em divulgar um produto, serviço ou protocolo no Bankless Brasil, mande um email para:
contato@banklessbr.com