Bancarizando os Desbancarizados em um Sistema Financeiro Quebrado
Explorando mais a fundo a revolução silenciosa das criptomoedas.
Prezada Nação Bankless,
No artigo de hoje, apresentamos a tradução do artigo Banking the Unbanked in a Broken Financial System, de autoria de Nick Shaheen, originalmente publicado em Bankless HQ.
Bancarizando os Desbancarizados em um Sistema Financeiro Quebrado
Explorando mais a fundo a revolução silenciosa das criptomoedas.
Durante anos, a narrativa dominante sobre cripto girou em torno de especulação, ciclos de preço e dores de cabeça regulatórias. Mas, longe dos holofotes e do FUD, algo real está acontecendo: cripto está, silenciosamente, resolvendo um dos maiores problemas financeiros do mundo – o acesso.
Mais de 1,4 bilhão de pessoas no mundo não têm conta bancária. Não porque não queiram, mas porque vivem em lugares onde infraestrutura financeira é privilégio, não regra. Elas enfrentam instituições corruptas, taxas absurdas de remessa, moedas instáveis e censura financeira explícita. Em muitos mercados emergentes, o sistema bancário tradicional não apenas falha em atender a população – ele ativamente joga contra ela.
É aí que o cripto prospera. Não em narrativas sobre ETFs ou reuniões do Fed, mas no dia a dia, onde as pessoas realmente precisam de uma alternativa permissionless, (sem permissão), borderless (sem fronteiras) e resistente à censura. Onde as pessoas precisam ir além dos bancos, precisam ser bankless.
Líbano, Nigéria e Turquia: Casos de Colapso Bancário e Ascensão do Cripto
Líbano e Turquia oferecem dois exemplos fortes de uso real de stablecoins.
A Turquia tem enfrentado uma desvalorização constante de sua moeda, levando a uma das maiores taxas de compra de stablecoins em relação ao PIB (3,7%).
Hoje, muitos cidadãos turcos preferem guardar USDT em vez da lira turca (TRY) como principal reserva de valor. Alguns dados importantes:
57% dos usuários turcos de stablecoins aumentaram seu uso no último ano, e 72% esperam usar ainda mais.
A conversão de moeda para dólares via stablecoins é o uso mais comum, seguido por pagamentos internacionais, compra de bens e recebimento de salários em USDT.
A Ethereum continua sendo a blockchain mais usada entre os turcos, seguida por Binance Smart Chain, Solana e TRON.
O efeito de rede do USDT domina por causa da confiança, liquidez e seu histórico consolidado.
O governo da Turquia tem oscilado entre restringir e aceitar as criptomoedas, com controles de capital dificultando o acesso a dólares pelo sistema bancário tradicional. Como resultado, o USDT – especialmente na TRON – se tornou um sistema financeiro paralelo não oficial, oferecendo estabilidade em meio ao colapso da moeda local.
Já o Líbano, que já foi um centro financeiro, hoje é um exemplo de como sistemas fiduciários podem simplesmente implodir. O setor bancário do país entrou em colapso em 2019, prendendo as economias de uma vida em contas congeladas e limites de saque.
Os cidadãos libaneses acordaram um dia e descobriram que seus dólares haviam virado “lollars” – depósitos locais em USD que valiam apenas uma fração do dólar real, por conta de taxas de câmbio artificiais impostas pelos bancos. A inflação disparou.
O sistema bancário virou um sequestro institucionalizado.
Foi aí que entraram as stablecoins. A adoção de Tether (USDT) e USD Coin (USDC) explodiu, já que os libaneses precisavam de uma forma de armazenar valor e realizar transações fora de um sistema bancário que os havia traído.
Hoje, o Líbano tem uma das maiores taxas de adoção cripto per capita do mundo – não como ativo especulativo, mas como ferramenta de sobrevivência.
Esses casos mostram que stablecoins não são apenas ferramentas de hedge ou ativos para especular – elas estão se tornando uma necessidade em regiões com instabilidade financeira, controles autoritários ou acesso restrito ao sistema bancário global.
A Nigéria, por sua vez, virou o epicentro da adoção de stablecoins. Devido à escassez severa de dólares e às restrições bancárias, os nigerianos recorreram ao USDT em números recordes. O país lidera na adoção de stablecoins entre os mercados emergentes, com uso frequente para remessas, liquidação de negócios e poupança.
Plataformas como Yellow Card e Binance fizeram do USDT uma peça-chave do sistema financeiro da Nigéria, permitindo que indivíduos e empresas contornem a falta de acesso ao dólar.
Stablecoins: A Verdadeira Porta de Entrada para Cripto
No mundo todo, o uso de stablecoins já ultrapassa o volume de DeFi e NFTs. Mercados emergentes – como Líbano, Nigéria e Argentina – não estão comprando ETH para fazer yield farming; estão trocando por stablecoins como uma saída de emergência de sistemas financeiros quebrados.
Stablecoins são o Cavalo de Troia cripto nas finanças globais. Em lugares onde os sistemas bancários são instáveis ou totalmente hostis, as pessoas estão encontrando formas de custodiar seus próprios dólares sem precisar passar por um banco.
As stablecoins são a maior história de sucesso das criptomoedas – um mercado de liquidações de US$ 5,28 trilhões que cresce independentemente dos ciclos do Bitcoin. Elas estão sendo usadas como dólar digital, como alternativa à conta bancária e como ferramenta de liberdade financeira em regiões onde o dinheiro falhou.
Se cripto conseguir resolver problemas reais para bilhões de pessoas, sua narrativa vai mudar de ativo especulativo para necessidade. E é assim que a adoção realmente acontece.
Esse artigo está especialmente incrível!